Ontem, no jornal Público, a China era notícia de primeira página, o tema, os jogos Olímpicos de Pequim. Com início daqui a um ano, a China aproveita o maior evento desportivo para mostrar ao mundo o seu poder económico e a sua capacidade organizativa. Mas Pequim tem de resolver um grave problema que é a poluição, uma verdadeira ameaça ao sucesso do evento. O jornal refere que a equipa de futebol feminino do Canadá já fez a experiência. Durante duas semanas de treinos em Pequim, algumas atletas tiveram de ser medicadas contra asma e outras irritações na garganta.
Num artigo de A. Azevedo Soares, lemos o seguinte “Se um passe de mágica devolvesse hoje Mao Tse Tung à vida, talvez o líder ficasse tão perplexo com a sofisticação urbanística de Pequim que pedisse para regressar ao seu mausoléu. É simples: as chaminés de que Mao tanto gostava, provavelmente porque correspondiam à imagem da cidade industrial e laboriosa, nada têm a ver com os arranha-céus... e tantas outras encomendas milionárias feitas a arquitectos ocidentais”.
Nós Ocidentais preocupamo-nos com a poluição da China porque um dia poderemos deixar de respirar e ficamos atónitos com o crescimento urbano e com os novos edifícios das cidades chinesas, julgando que a China está a progredir de forma imparável.
Um outro artigo do Público tinha como título, “Gigante na dimensão e na pobreza, Milagre económico não chega para imitar Japão de 1964”.
Há uns meses, no site do Wall Street Journal, um colunista comparava a China e a India onde aconselhava em que bolsa se deveria investir e começava o artigo comparando a sua chegada a duas cidades, Bombaim e Xangai. No moderníssimo aeroporto de Xangai, um comboio, mais veloz que o TGV, levava-o à cidade em poucos minutos. Aí, instalado no Hilton, sentia-se como em qualquer outra cidade do mundo. Em Bombaim, num aeroporto decrépito, tinha que apanhar um taxi e, para percorrer uma distância semelhante, demorava mais de uma hora por caminhos duvidosos. Na cidade, instalado no Taj, Hotel ainda da época colonial sentia-se numa cidade diferente de todos as outras no mundo.
A diferença abissal é recente, até 1980 as cidades na China ainda eram assim:
Se olharmos para a zona costeira, Shenzen, cidade localizada na região de Guangdong não figura no mapa.
Perto de 100 milhões de chineses trabalham actualmente em fábricas, onde variadíssimos produtos são confeccionados, desde câmaras digitais a peças de vestuário.
Shenzen não figura no mapa porque, na década em que o livro foi editado, 1982, era ainda uma pequena cidade piscatória com cerca de 70.000 habitantes, junto ao delta do rio das Pérolas. Hoje assemelha-se a Nova Iorque, onde a bolsa de Shenzen rivaliza com a bolsa de Xangai. Shenzen nos últimos 25 anos cresceu desmesuradamente porque se industrializou. Foi escolhida como cidade piloto para uma experiência do Estado: está isenta de impostos, perto de Hong Kong e suficientemente longe de Pequim, não alastrando assim à capital a eventualidade de a experiência falhar. Quem vive em Shenzen vive única e exclusivamente para o trabalho.
Em 2001 a China aderiu ao World Trade Organization (WTO), onde a lei obriga abertura ao investimento estrangeiro. Desde aí que o investimento estrangeiro em Shenzen não pára, americanos, tailandeses, japoneses, alemães... James Fallows, num excelente artigo na revista Atlantic deste mês, convida-nos a visitar estas fábricas por dentro. FoxConn, de um investidor tailandês, está situada nos arredores de Shenzen e emprega mais de 250.000 operários nas linhas de montagem.
A FoxConn, a maior empresa exportadora da China, na lista da Fortune Global das maiores empresas do mundo figura num modesto 206 lugar.
No mundo Ocidental qualquer um de nós já ouviu o nome Dell, Sony, Compaq, HP, Apple, Nec, Toshiba...poucos ouviram Quanta, Inventec, Wistron, Asustek.... É contudo nestas últimas, empresas chinesas, que se fabricam os componentes que as primeiras utilizam nos seus aparelhos.
As linhas de montagem das fábricas chinesas fazem parte desta cadeia global, que começa na marca, HP, Siemens, Dell, Nokia Apple...segue-se a ideia do produto, um ipPod, um novo computador, telemóvel com câmara...segue-se o design industrial do produto, depois estuda-se os componentes para o fabrico desse novo produto, depois a produção destes componentes nas linhas de montagem, onde entram as fábricas chinesas,
Voltemos ao artigo do jornal de Wall Street, e à questão onde investir: nas empresas chinesas ou indianas?, ou voltemos ao título do artigo “Milagre económico não chega para imitar Japão em 1964”.
Infosys, empresa de tecnologias de informação, criada em 1981 em Pune na India, uma das maiores no mundo,compete com as suas congéneres na América, muitos directores gerais de grandes empresas de marca são indianos. Do Japão, a Toyota ultrapassou, no ano passado, pela primeira vez, as vendas globais da General Motors. O milagre económico da china não imita, porém, o boom do Japão. Ambos, Índia e Japão, têm empresas competitivas a nível internacional, a China tem muitas empresas mas pequenas, comparadas ao nível mundial, e fora do mercado competitivo, e não se conhecem chineses no topo das grandes empresas.
O que falta aos chineses?
“Até onde o olhar alcança, o oceano Ìndico imóvel, luzente, lacado- sem sinal de um barco. (...) Hong-Kong. A ilha ali está no mapa, negra e nítida, fechando como um trinco aquele rio das Pérolas na margem do qual se estende a massa cinzenta de Cantão, com os seus ponteados que indicam bairros incertos, a algumas horas apenas dos canhões dos ingelses” é assim que André Malraux descreve a greve geral decretada em Cantão no seu livro “Os Conquistadores”.
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