Alexander Rodchenko, Varvara a ouvir rádio, 1929
Esta miúda que ouve rádio e encena para o pai a fotografar é Varvara que agora escreve as memórias do seu pai, Alexander Rodchenko, no catálogo da retrospectiva que o Musée d'Art Moderne de Paris lhe dedica até ao dia 16 de Setembro.
Há dias, João Bénard da Costa, num programa que a RTP lhe dedicou dizia que as relações do cinema com a ópera o fascinavam e dedicara há já algum tempo um ciclo na programação da Cinemateca, com os filmes que representavam para ele essas relações, que não necessáriamente filmes com óperas...
Outras relações podemos ver no cinema, e a fotografia é uma delas. “Cinema, herança da fotografia?” questiona Godard na sua Histoire(s) du Cinéma. O sim de Godard, em resposta à questão que coloca é bem visível para o período que vamos olhar, o das vanguardas russas.
Rodchenko fotografou, Vertov filmou. A fotografia era para Rodchenko como o filme era para Vertov, um meio ao serviço da produção de uma arte funcional, compreensível e acessível a todos. Ambas as máquinas, a fotográfica e a de filmar, substituiam a arte da pintura, criada para contemplação estética, apreciada pela antiga burguesia, rejeitada agora pela nova utopia socialista. Fotografia e cinema revelavam a vida real e autêntica, e ambas garantiam a verdade objectiva do mundo. Muitas foram as revistas que na nova URSS se dedicavam à fotografia e cinema, Kino-Fot (Cine-Foto), Sovetskoe Kino (cinema soviético), na qual Rodchenko assinava uma coluna sobre fotografia, Sovetskoe Foto (fotografia soviética), Novii LEF...
Em 1925 Vertov realizava os seus primeiros documentários cinematográficos, Kinopravda (Cine- Pravda), onde o dia a dia dos trabalhadores, os eventos quotidianos na nova sociedade socialista eram tema. Nesse mesmo ano, Rodchenko deixava a pintura pela fotografia.
Rodchenko fotografou Moscovo na década de 1920-30, Vertov filmou Odessa em “O homem com a câmara de filmar”, 1929. Ambos mostravam cidades como epicentros da modernidade, quer no plano urbanístico como no plano individual. Fotografaram e filmaram o quotidiano do dia a dia,
Há dias, João Bénard da Costa, num programa que a RTP lhe dedicou dizia que as relações do cinema com a ópera o fascinavam e dedicara há já algum tempo um ciclo na programação da Cinemateca, com os filmes que representavam para ele essas relações, que não necessáriamente filmes com óperas...
Outras relações podemos ver no cinema, e a fotografia é uma delas. “Cinema, herança da fotografia?” questiona Godard na sua Histoire(s) du Cinéma. O sim de Godard, em resposta à questão que coloca é bem visível para o período que vamos olhar, o das vanguardas russas.
Rodchenko fotografou, Vertov filmou. A fotografia era para Rodchenko como o filme era para Vertov, um meio ao serviço da produção de uma arte funcional, compreensível e acessível a todos. Ambas as máquinas, a fotográfica e a de filmar, substituiam a arte da pintura, criada para contemplação estética, apreciada pela antiga burguesia, rejeitada agora pela nova utopia socialista. Fotografia e cinema revelavam a vida real e autêntica, e ambas garantiam a verdade objectiva do mundo. Muitas foram as revistas que na nova URSS se dedicavam à fotografia e cinema, Kino-Fot (Cine-Foto), Sovetskoe Kino (cinema soviético), na qual Rodchenko assinava uma coluna sobre fotografia, Sovetskoe Foto (fotografia soviética), Novii LEF...
Em 1925 Vertov realizava os seus primeiros documentários cinematográficos, Kinopravda (Cine- Pravda), onde o dia a dia dos trabalhadores, os eventos quotidianos na nova sociedade socialista eram tema. Nesse mesmo ano, Rodchenko deixava a pintura pela fotografia.
Rodchenko fotografou Moscovo na década de 1920-30, Vertov filmou Odessa em “O homem com a câmara de filmar”, 1929. Ambos mostravam cidades como epicentros da modernidade, quer no plano urbanístico como no plano individual. Fotografaram e filmaram o quotidiano do dia a dia,
Alexander Rodchenko, Moscovo, 1927
Dziga Vertov, "O homem com a Câmara de filmar",1929
Alexander Rodchenko, Lavagem de ruas, 1929
Dziga Vertov, "O homem com a câmara de filmar",1929
Alexander Rodchenko, bombeiros em serviço, 1932
Dziga Vertov, "O homem com a câmara de filmar", 1929
Dziga Vertov, "O homem com a câmara de filmar", 1929
Alexander Rodchenko, AMO,1929
Dziga Vertov, "O homem com a câmara de filmar",1929
Alexander Rodchenko, Ambulância, 1929
os interiores e exteriores das habitações dos trabalhadores,
Alexander Rodchenko, Campos de estudantes, Edifícios novos, 1932
Dziga Vertov, "O homem com a câmara de filmar", 1929
Alexander Rodchenko, Sala de leitura da Biblioteca Lenine, 1932
os transportes públicos exaltando os carros eléctricos, a mecanização da indústria,
Dziga Vertov, "O homem com a câmara de filmar", 1929
Alexander Rodchenko, União leiteira, Engarrafamento do leite, 1929
os lazeres
Dziga Vertov, "O homem com a câmara de filmar", 1929
Alexander Rodchenko, Pausa do almoço, Fábrica Amo, 1929
e as actividades desportivas,
Dziga Vertov, "O homem com a câmara de filmar", 1929
Alexander Rodchenko, Desfile da sociedade desportiva do "Dynamo", 1932
Dziga Vertov, "O homem com a câmara de filmar", 1929
Alexander Rodchenko, O salto, 1932
símbolo de uma nova sociedade que se queria dinâmica, jovem e saudável. “Fotografia e cinema ultapassavam as faculdades puramente visuais do olho humano, Kinoglaz e Fotoglaz, conseguiam reflectir a complexidade da modernidade social” escreve Osip Brik no texto “O que o olho não vê” publicado em 1926 na revista Sovetskoe Kino #2, ilustrado com as fotografias de Rodchenko da rua Miasnitskaia.
Esta série, das primeiras que fotografou, mostram o edifício onde vive. Nelas Rodchenko experimenta e desenvolve uma nova maneira de olhar para a arquitectura, onde perspectiva e detalhes são postos em evidência.
Esta série, das primeiras que fotografou, mostram o edifício onde vive. Nelas Rodchenko experimenta e desenvolve uma nova maneira de olhar para a arquitectura, onde perspectiva e detalhes são postos em evidência.
Alexander Rodchenko, Rua Miasnitskaia,1925
O poeta Nicolai Assev, vizinho de Rodchenko, faz a seguinte descrição desta série de Rodchenko “ Here we have the buiding from below, obliquely. It recedes, shrinks in perspective.
Here it is falling, disintegrating, crushed under the weight of its own walls.
Here again, as it violently shoots downwards with all its nine balconies, which get gradually smaller because they have been photographed from above.
This is a new way of seeing, to mankind a new and hitherto unknown possibility to see objects in their exact perspectives, which overthrow every notion of proportion and relation.
This new vision sharpens a perceptive capacity grown blunt and dulled by the habitual view of things”.
Nas composições fotográficas e nos filmes, Rodchenko e Vertov iram utilizar efeitos visuais inovadores, diagonais, verticais, horizontais, círculos, vistas em picado e contra picado,
Nas composições fotográficas e nos filmes, Rodchenko e Vertov iram utilizar efeitos visuais inovadores, diagonais, verticais, horizontais, círculos, vistas em picado e contra picado,
Alexander Rodchenko, Rua Miasnitskaia, 1925
Dziga Vertov, "O homem com a câmara de filmar", 1929
Dziga Vertov, "O homem com a câmara de filmar", 1929
Alexander Rodchenko, Polo de transmissão, 1929
simultaneamente com composições espontâneas utilizando a organização das coisas mais banais, como o arranjo de uma mesa de tabalho,
Alexander Rodchenko, Desenhadores, 1932
a ordem dos acontecimentos ao longo de um dia de trabalho numa cidade que se reconstruia....
Vertov rejeitava todos os artificios do cinema, não queria actores profissionais, não queria cenários que não fossem naturais e finalmente não queria ligações ao teatro e à literatura. Vertov unifica a lente da máquina com o olho, fazendo dos dois uma unidade o seu “Kinogalz”.
Vertov rejeitava todos os artificios do cinema, não queria actores profissionais, não queria cenários que não fossem naturais e finalmente não queria ligações ao teatro e à literatura. Vertov unifica a lente da máquina com o olho, fazendo dos dois uma unidade o seu “Kinogalz”.
Dziga Vertov, "O homem com a câmara de filmar", 1929
Para Rodchenko, como refere a filha Varvara, a máquina fotográfica era como uma extensão do seu corpo.
Mas as ligações da fotografia e cinema estão para além do tema e das composições utilizadas, Rodchenko cria movimento nas suas fotografias, a utilização de séries rejeitando a fotografia única, a dupla exposição
Mas as ligações da fotografia e cinema estão para além do tema e das composições utilizadas, Rodchenko cria movimento nas suas fotografias, a utilização de séries rejeitando a fotografia única, a dupla exposição
Alexander Rodchenko, Stepanova, 1924
e a utilização de diferentes planos,
Alexander Rodchenko, Correio, 1928
Alexander Rodchenko, 1929
tudo técnicas que criam impressão de movimento. Por seu lado Vertov em “O homem com a câmara de filmar” filma o quotidiano acelerado de uma grande cidade, mas no filme Vertov interroga-se sobre os mecanismos do próprio cinema, criando no desenrolar do movimento imagens estáticas isoladas inclusive sem música, revelando que origem do movimento resulta da sequência de fotogramas.
Dziga Vertov, "O homem com a câmara de filmar", 1929
Sem artifícios ambos julgam criar uma nova linguagem documental, absoluta e verdadeira.
Mas Rodchenko acabou incompreendido pelos seus colegas, acusado de plagiar os fotógrafos ocidentais, (Moholy-Nagy, Renger-Patzsch), foi também duramente criticado com “Pionnier”.
Alexander Rodchenko, Pionier, 1930
A deformação causada pelo ângulo com que é tirada a fotografia, era inadmissível para muitos, que viam nela uma crítica à juventude.
Mas Rodchenko e Vertov foram mestres na reportagem
Mas Rodchenko e Vertov foram mestres na reportagem
Dziga Vertov, "O homem com a câmara de filmar", 1929
Fotógrafo anónimo, Alexander Rodchenko a fotografar parada de desportistas na Praça Vermelha, 1932
e focaram as suas lentes na nova vida que emergia na União Soviética.
Nota: Outro post sobre Rodchenko e Vertov aqui.
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