terça-feira, dezembro 02, 2008

Sydney Opera House

O arquitecto sonha, o engenheiro faz.


Max Dupain Ópera, de Sydney ainda em construção, c.1969

No caso da Ópera de Sydney o sonho era tão arrojado que nem a mais prestigiada firma de engenharia do mundo – a Ove Arup & Partners – conseguiu encontrar uma solução que se enquadrasse na imaginação do arquitecto.

Estamos a falar do dinamarquês Jorn Utzon (1918-2008), que morreu Sábado passado em Copenhaga, vítima de um ataque de coração.
Jorn Utzon vai ser lembrado como um dos dinamarqueses que, com o seu enorme talento, colocou a Dinamarca no mapa do mundo durante o século XX”, afirmou a ministra da Cultura dinamarquesa Carina Christensen.

Max Dupain, (1911-1992), considerado um dos mais célebres fotógrafos australianos, que colocou a Austrália no mapa do mundo do modernismo fotográfico, um “Ícone da Austrália” como refere constantemente a imprensa do país, aceitou a encomenda de fotografar a construção da célebre Ópera.


Max Dupain, Ópera de Sydney em construção, c.1968

Dupain olhou com detalhe para o grande problema estrutural desse edifício, as conchas


Max Dupain, Recobrindo a Ópera de Sydney, 1972

ou asas dessa criatura exótica que parecia querer levantar voo no porto natural de Sydney.


Max Dupain, Porto de Sydney, c.1936

Partindo de uma arquitectura aditiva e completamente integrada, onde todos os elementos estão relacionados, da cobertura ao interior, coube a Utzon descobrir a solução para o seu sonho, ao descascar um dia uma laranja. As conchas seriam, afinal, segmentos de calotes esféricas que cobriria com azulejos, inspiração que lhe veio do efeito da luz nas cúpulas do Islão como explica o historiador de arquitectura Richard Weston.

Olhando para a obra acabada, que no ano passado foi considerada pela UNESCO como Património Mundial, Dupain maravilhado disse o seguinte: “ As the light moves across it during the day, its changes its form and shape…it’s full of moods…and photographically speaking, its forms is fantastic”.

Dos 232 candidatos, o jovem Utzon, com o seu desenho visionário, ganhava, em 1957, o concurso para a Ópera de Sydney. Ninguém adivinhava o que estava para vir, previsto para estar concluído em 18 meses o edifício só seria inaugurado dezasseis anos depois. Em 1966, com a obra a meio, Utzon abandona o projecto e a Austrália, para onde se tinha mudado com a família. Com uma derrapagem no orçamento em mais de mil por cento, os políticos, viam no edifício um enorme elefante branco, pois os problemas continuaram com os desenhos do interior.

Nascido na Alemanha, Wolfgang Sievers (1913–2007), emigra para o estrangeiro com a chegada dos nazis ao poder. Depois de alguns anos a saltitar pela Europa, onde passou dois em Portugal, Sievers segue o conselho do pai e emigra para um país tão longe da Alemanha quanto possível. Nos antípodas do mundo, a Austrália será o seu destino, onde se naturalizará em 1944. Sievers tal como Dupain, fotografa um país-continente que se transforma, nesses anos do pós-guerra, numa moderna potência mineira e industrial. Não é pois de estranhar, que esse país-continente, visto pelos ocidentais como o país dos cangurus, anunciasse em 1957 um concurso que representava o optimismo sonhador desses anos 60.

No ano da inauguração, 1973, Sievers, fotografa os interiores, dando a escala do edifício, por aqueles que lá iam ouvir a melhor ópera.


Wolfgang Sievers, Interior of the Sydney Opera House, 1973


Wolfgang Sievers, View of the stage of the Sydney Opera House, 1973


Wolfgang Sievers, Stairs inside the Sydney Opera House, 1973


Wolfgang Sievers, View across Sydney Harbour to the Sydney Opera House, 1974

Nem mesmo a obra, “que estava à frente do seu tempo”, consegue afastar as pessoas da objectiva de Sievers, que deixa a fotografia em 1980, quando a automação computadorizada afastou o trabalhador da indústria.

À frase da ministra dinamarquesa da Cultura pode-se acrescentar que a Sydney Opera House, uma das Maravilhas do Mundo, é o ícone, não apenas de uma cidade, mas duma nação.


1 comentário:

almagrande disse...

Excelente, gostei particularmente das fotografias de Sievers. A "Stairs inside the Sydney Opera House" é fabulosa.