segunda-feira, dezembro 01, 2008

"Moscou Verticale"


Na sua recente digressão por terras latino-americanas, o presidente da Rússia, Dmitri Medvedev, deixou claro as suas intenções: “Tivemos relações particularmente estreitas com vários países da América Latina durante a era soviética. Chegou o tempo de restaurar essas relações” e em Cuba precisou melhor: “Os nossos projectos de cooperação com a América Latina não significam que estejamos em despique com a China e os Estados Unidos…o que temos é de provar é que alguns dos nossos projectos são melhores”. Esquecer os anos de humilhação e fraqueza e tornar a Rússia novamente alvo dos olhares do mundo tem sido um dos principais objectivos de Putin, desde que subiu ao poder em 2000.

Posicionando-se ele próprio como símbolo da nação, Putin “cleverly exploited nostalgia for Soviet cultural symbols…not because of their connection with communism but as symbols of stability, continuity and power”, lemos na revista “The Economist” que esta semana dedica um caderno especial sobre a Rússia.
Para o projecto “Moscou Verticale”, que esteve no mês passado em exposição na Cité de l’architecture e du patrimoine, em Paris,



Gabriele Basilico, escolhe o topo dos sete arranha-céus estalinistas, (os símbolos culturais soviéticos),



os chamados vysotki - que na era de Estaline representaram o ponto culminante de uma visão utópica de construção urbana - para fotografar Moscovo, que nos últimos anos sofreu transformações radicais. Repleta de trânsito,





guindastes, bairros novos,



eixos de circulação



e chaminés poluidoras,





Basilico circulou no cimo dos edifícios, à semelhança do que faz nas praças das cidades, e fotografou em todos eles, as diferentes vistas dos quatro pontos cardeais.









Símbolos do novo poder do pós Segunda Guerra, lançados por um decreto aprovado pelo conselho de ministros em 13 de Fevereiro de 1947, estes edifícios viriam a ocupar um lugar incontestável no desenvolvimento urbanista da capital na era soviética. Se no cimo dos edifícios Basilico prefere a cor, por revelar melhor a poluição densa da cidade, ao nível da rua regressa ao seu habitual preto e branco.



Em redor do Palácio dos Sovietes - Dvorec Soveton - o coração urbano moscovita, que enquadra lateralmente o Kremlin,



olhamos numa outra perspectiva os pontos de referência visíveis do design monumental da era estalinista.



Basilico, especialista a fotografar a arquitectura das cidades, parece ignorar as vidas que a habitam – nas suas fotografias não há gente nas ruas - será que Moscovo é só arquitectura?
Para além da arquitectura, “Moscou Verticale” é um aferidor da história. Nos ângulos oblíquos,



Basilico vai buscar inspiração a Rodchenko, que fotografou, para a sua série “Nova Moscovo”, que nunca chegou a sair em livro, as novas habitações construídas pelos planos Quinquenais de Lenin. Na rua Novinskii, residência comunal para os trabalhadores da Narkofin, construído em 1930, a fachada é fotografada em diagonal para acentuar a sua pronunciada configuração horizontal os relevos da estrutura e a abundância de janelas. Ao revivalismo da era estalinista, Basilico mostra-nos o tempo em que vivemos, o tempo em que Medvedev e Putin sonham com o regresso de uma Rússia poderosa.
A Rússia, o país que Putin quer por nas alturas, vive agora a paralisia, “high oil prices corrupted us, inflated our expenditure and distorted our economy”, diz o antigo primeiro ministro Igor Shuvalov. Agora em Moscovo os guindastes da construção pararam e a corrupção alastra abrindo ainda mais o fosso entre a elite do Kremlin e a pobreza do povo.


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