terça-feira, dezembro 23, 2008

"Chávena de Café" de Rita Barros

Esta chávena cheia de café


Rita Barros, Chávena de café, em exposição na galeria Pente 10

foi a escolhida para ilustrar o convite, que recebi por e-mail, para a inauguração de “Presença da Ausência” de Rita Barros, em exposição, até 10 de Janeiro, na galeria Pente 10.



Há dias recebi um outro e-mail a lembrar a dita exposição, mas desta vez ilustrado com uma cafeteira ao lume.


Rita Barros, Máquina de café, em exposição na galeria Pente 10

Primeiro serviu-se o café e só depois se ouviu o gorgolejar tão típico da água a subir na cafeteira italiana.

As cores saltam das imagens”, escreve Jorge Calado no catálogo, e “só depois nos apercebemos das formas, objectos e dos seus fragmentos”.
Ao olhar para a fotografia, “Chávena de café”, (exposta no corredor da galeria mas a olhar para a sala de exposição), o pires com as suas folhas verdes, um fragmento que quase se mistura com as flores garridas da toalha, saltou-me primeiro à vista. Depois, e ainda antes das cores das flores, veio a chávena e o adivinhar da sua forma. Será em forma de vaso ou terá a forma cilíndrica igual ao serviço de café que sempre vi ser usado em casa dos meus pais? A perspectiva escolhida, a mesma com que Stephen Shore – um dos pioneiros da cor nos anos 70 - fotografava as suas refeições nas mesas de fórmica dos restaurantes de comida rápida nas suas viagens pela América, não nos ajuda a deslindar a forma da chávena…aliás fico mesmo sem saber se a “Chávena de café” de Rita Barros é exactamente igual ao serviço que eu sempre conheci. Só depois, e muito depois, saltaram à vista as cores da tão florida toalha, que tal como as mesas de fórmica de Shore pode ser limpa com um simples pano húmido.

A cafeteira, pelo contrário, é fotografada de um ângulo que a revela tal qual é: resistente, sem disfarçar a idade que já tem, sempre pronta a servir e a resistir à belíssima chama azul do gás. A caçarola do leite, lá mais atrás, mesmo sem o azul a iluminá-la, não passa desapercebida em cima do velho fogão de esmalte branco, assim como os azulejos de bonecos da bancada do lava-loiças.

De objecto em objecto, do televisor à Lee Friedlander


Rita Barros, TV, em exposição na galeria Pente 10

à geometria que se vislumbra da janela do seu apartamento nova-iorquino,


Rita Barros, Cortina, em exposição na galeria Pente 10

(terá sido Stieglitz o primeiro a olhar e a registar as quadrículas geométricas dos edifícios, chaminés, janelas e da roupa a secar, nos telhados de Nova Iorque?), Rita Barros espevita-nos constantemente a memória.

No interior da sua casa,


Rita Barros, Santo António, em exposição na galeria Pente 10

presos nesse segredo das memórias da infância, que sentimos como uma cumplicidade, numa conivência partilhada, em laços que nos ligam a uma mesma cultura, julgamos por momentos estar em Portugal, mas a cidade de desconhecida arquitectura que vemos pela janela, passamos por estrangeiros por uma só noite.


Rita Barros, Prédio, em exposição na galeria Pente 10

Catarina Ferrer, a galerista, uma apaixonada pela fotografia, simpaticamente ofereceu-me, no final de ver a exposição, um café. Tirado em segundos por máquinas que perfuram cápsulas de cores garridas, que lembram as cores da exposição, em segundos varreram-se as memórias.

2 comentários:

Anónimo disse...

Madalena,

parabéns pelo seu trabalho.
Um feliz Ano Novo com muita paz, saúde e alegria.
Abraço

Madalena Lello disse...

Agradeço e retribuo.