sexta-feira, janeiro 18, 2008

Fotojornalismo em crise?

Ontem o P2 do jornal Público recordava o dia 17 de Janeiro de 1991, dia em que iniciou a chamada guerra do Golfo. O jornal ilustrava o pequeno texto com esta grande imagem:

Jornal Público, dia 17 de Janeiro, 2008

Na madrugada desse dia, uma frota de aviões dos EUA, Inglaterra, França, Arábia Saudita e Kuwait seguiram em direcção ao Iraque. Os ataques aéreos, feitos com “bombas inteligentes”, de uma precisão nunca antes vista marcavam o início de uma ofensiva que se designou por Operação Tempestade no Deserto.
Todos nós em casa em frente aos nossos televisores fomos surpreendidos pelas imagens que a CNN difundiu em directo dessa guerra, e ao longo dos dias habituámo-nos às imagens fornecidas via satélite que invadiam os nossos ecrãs.
De tons esverdeados, mais pareciam imagens de jogos de uma guerra virtual.
Para a elite militar americana o impacto que as fotografias da guerra do Vietname causaram na opinião pública estavam ainda bem presentes e o Vietname, a última guerra a ser fotografada. Na guerra do Golfo as instâncias militares americanas evitaram ao máximo o testemunho directo dos jornalistas e fotógrafos no terreno, e divulgaram imagens que mais se assemelhavam a uma guerra cirúrgica, as imagens verdes que hoje retemos na memória e que o Público tão bem reproduz. Estará o fotojornalismo em crise?
Aos fotógrafos resta agora o depois, como fez Sophie Ristelhueber que em 92 vai ao Kuwait registar as marcas dos objectos pessoais e de destruição bélica deixados no terreno pela artilharia americana.
Sophie Ristelhueber, da série Fait, 1992
Sophie Ristelhuber, da série Fait, 1992
Sophie Ristelhueber, da série Fait, 1992

Thomas Ruff, prefere, como o fez na sua série Nacht de 92/93, ironizar a crise do referente, pois já nem precisa de “ter estado lá”.
Thomas Ruff, da série Natcht 10, 1992
Thomas Ruff, da série Natch 14, 1993

Mas se as guerras já não podem ser fotografadas, as manifestações públicas correm também esse risco. Vejamos o que se passou com a revolta estudantil de Março de 2006 em França. Em 10 de Março desse ano, o site do jornal “Libération” anunciava esta notícia breve: “Manifs, AG...Envoyez-nous vos photos témoignages. Elles seront sélectionnées para la rédaction, publiés au fur et à mesure sur Libération.fr”, mas esta solicitação era seguida de um texto bastante mais longo, que enunciava as condições da publicação: “Vous accordez à Libération le droit de publier gratuitement sur tous les supports de son choix les images que vous lui avez envoyées (...) Vous certifiez bien être l’auteur de ces image et posséder les autorisations nécessaires de toutes les personnes photographiées...”, se nos dá vontade de rir, o jornal cumpria com a lei que obriga uma autorização prévia do fotografado, numa manifestação... Poucas foram as imagens enviadas, porque também hoje, a internet substitui tais disparates com novas plataformas de informação como o Flickr, onde quase minuto a minuto eram divulgadas as imagens dos estudantes revoltosos.
Ocupação da Sorbonne, 10-11 de Março 2006, fotografias divulgadas em Flickr
Manifestação 28 Março, 2006, imagem divulgada em Flickr
Manifestação em Paris, 18 Março 2006, imagem divulgada em Flickr
Mas se hoje estas plataformas são o meio privilegiado de circulação de informação, o curioso é que hoje a maioria das imagens que a blogosfera utiliza para ilustrar os seus posts, são retiradas dos jornais e Sócrates, Cavaco Silva,...fazem as delícias de muitos blogers.

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