quarta-feira, janeiro 17, 2007

O fotolivro; um novo mercado emergente

Ontem, por razões profissionais, fui assistir a uma conferência que a Reuters promoveu para o sector financeiro - Fund & Asset Management – Drivers and New Opportunities. No coffee-break, constatei que para além dos Hedge Funds, Futuros, Opções...há quem se interesse por outras oportunidade de investimento. Alguém, que não sabendo da minha paixão pela fotografia, dizia-me que estava agora interessado em comprar fotografia, não percebia nada do assunto, estava agora a começar, sabia que vinha tarde porque os preços já estavam muito elevados, mas era um mercado que valia ainda explorar. Referi que comprar fotografia como um investimento financeiro puro era mais arriscado que transaccionar Warrants sobre o índice DAX. Sugeri o fotolivro (a palavra é recente) como uma “New Opportunitie” quase sem risco. Sei que não me levou a sério.

Associei esta conversa, com as Opções e Futuros e veio-me à memória, uma entrevista com o coleccionador Luis Sáragga Leal no site artecapital. Coleccionador desde a década de 1970, é Presidente da Fundação PLMJ, cuja colecção começou a ser criada em 1998 com os sócios da sua sociedade de advogados. “(...) em 98 começamos com pintura e alguma escultura e uns anos mais tarde, aliás, fruto de um desafio que me lançaram, arrancámos para a fotografia. Na altura tinha pouca informação sobre fotografia como forma de expressão plástica autónoma e, como sempre faço, fui-me informar, documentar. Comprei livros, assinei revistas, comecei a ir aos museus no estrangeiro, onde começava a haver cada vez mais museus de fotografia. Fui aos grandes acontecimentos de fotografia, entre os quais os encontros de Fotografia de Coimbra, os Encontros de Imagem em Braga, ao Mois de la Photo em Paris...e depois começei a verificar que mesmo nas feiras internacionais havia uma presença cada vez maior, em termos percentuais, de fotografia (...) Esse é um fenómeno a que tenho assistido nos últimos anos, e foi por volta de 2000/2001 que a Fundação PLMJ começou a colecção de fotografia. (...) e foi um passa palavra, foi o pescar à linha, e hoje devo ter a maior informação visual e pessoal sobre a fotografia em Portugal”. Ainda falando sobre as aquisições das obras da Fundação (que cobre a pintura, desenho, a fotografia, escultura e vídeo), refere: “(...) nós próprios aqui na Fundação temos um programa, o projecto “Opções e Futuros”, que visa incentivar e divulgar esses valores emergentes, (os jovens artistas), e cuja expressão revela precisamente esta política de aquisições da Fundação (...) seguir com atenção os valores mais jovens a caminho da sua afirmação e consagração, fazer as nossas escolhas criteriosas, ou seja, as nossas opções em função da avaliação que nós fazemos da sua qualidade em termos de afirmação e valorização futura. Estou a referir-me à valorização artística e não financeira, por isso a expressão “Opções e Futuros” que importámos do direito financeiro.”

Os motivos que levam os privados a coleccionar são diversos. Há quem coleccione por paixão, outros coleccionam por vício, outros como investimento financeiro, outros como uma aposta, outros ainda para “ intervir no mercado com a necessidade de ter grande visibilidade social e mediática”, como diz o galerista Luis Serpa, e outros coleccionam por muitas outras razões, ou misturam as razões anteriores em doses diferentes.

Jorge Calado, numa entrevista ao jornal “O Independente”, em 1989, falava da sua paixão como coleccionador de fotografias. Uma semelhança encontrei entre Sáragga Leal e Calado, ambos utilizam a pesca à linha. “Como pescador” diz-nos Jorge Calado,” atiro a linha e depois fico à espera; não vou à procura.” Uns pescam com mais paciência que outros. “Em relação à minha colecção estou sempre available; estou sempre disposto a ser atraído por uma coisa nova, (...)se um dia vir que estou completamente obcecado pela fotografia (o que é verdade), como uma paixão, posso eventualmente tomar a decisão de acabar.”refere Calado. Uns coleccionam por paixão, outros esperando que a aposta dê em “valorização artística” : “ o mérito está em apostar e apostar é arriscar, é uma vez mais “Opções e Futuros”, nos artistas mais novos”, diz-nos Sáragga Leal ainda na referida entrevista.

Regressemos ao fotolivro como proposta de um optimo investimento. Para os financeiros direi, aproveitem a arbitragem que ainda existe neste mercado.
Para o mercado em geral, passo a explicar as razões de tal investimento:

1 - Martin Parr e Roger Badger em 2004 lançam o primeiro volume de “The Photobook: A History ”. Este livro excelente apresenta cerca de 200 livros de fotografia, desde os álbuns do século XIX até aos livros japoneses dos anos 1960/70. É neste volume que vem mencionado o livro “Lisboa, cidade triste e alegre” de Vitor Palla e Costa Martins.
Já saiu o 2º volume que é dedicado aos livros contemporâneos.











2- Nos catálogos de venda de livros fotográficos vê-se agora referênciado: “Répertorié dans le Parr e Badger”.

3- No Paris Photo, em 2005, a reacção já é visível; é o Photobook com os post –it a marcar os livros que a livraria tem e que lá estão mencionados.





4- O marchand Denis Ozanne, no magazine des Beaux Arts, (revista que fala da arte em geral) refere que já desde 2001, o livro “The Book of 101 Books” de Andrew Roth, deu ao mercado alguma bibliografia sobre os fotolivros, mas não o suficiente. Com o livro de Parr e Badger, Ozanne diz “Dorénavant, les collectionneurs se battent pour retrouver tous les livres cités dans le Photobook. Cela devient de la folie”.








5 – Outra revista Modern Painters, nos mês de Agosto de 2006 dá como título a um dos artigos:
Pump Up The Volumes: Testing the new market for vintage photography books.









6- Philippe Garner, director do departamento de fotografia da reconhecida leiloeira Christie’s explica o seguinte “O mercado da fotografia já existe há mais de 10 anos. Como consequência as fotografias estão cada vez mais caras. O coleccionador comum já não tem budget para constituir uma colecção de fotografias. O fotolivro é uma alternativa, para uma nova colecção.”
No dia 18 de Maio de 2006, a Christie’s, fazia o seu primeiro leilão de Rare Photobooks. O total das vendas rendeu 635,792 , valor em libras.
Mas preparou bem o leilão, dois dias antes publicitava:
The renowned photographer and author Martin Parr will deliver a lecture on photobooks at Christie’s King Street on 16 may 2006 at 6:30 pm.


Há bons livros ainda a preços muito acessíveis.

Nota: tal como na Bloomberg, aqui fica a minha nota de rodapé: qualquer investimento em fotolivros é da única responsabilidade de quem o compra.

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