sábado, outubro 25, 2008

Quem somos nós?

Quinta-feira passada, numa audição do Congresso, Alan Greenspan, reconheceu que falhou na regulação do sistema financeiro dos Estados Unidos. Fervoroso defensor do mercado livre admitiu: “Cometi um erro ao confiar que o livre mercado pode regular-se a si próprio sem a supervisão da administração”. Com a crise terrível que desabou sobre o mundo, ninguém lhe perdoa.


Lars Tunbjörk, Stockbroker, Tokyo, 1999

Greenspan acreditou na visão cibernética, que no auge dos anos sessenta, proclamava que qualquer sistema está ameaçado pela desordem, mas da qual ao mesmo tempo se alimenta.


Lars Tunbjörk, Lawyer's Office, New York, 1997

Para os cibernéticos, perante uma crise, o sistema desencadearia novas soluções para ultrapassa-la, e a desordem, que chamaram de enriquecedora, era vista como a força capaz de transformar e inovar. A cibernética agrupava os mesmos princípios organizacionais, quer se tratasse de células, máquinas artificiais ou o homem e Greenspan confiou também, que a máquina financeira, mesmo perante o maior caos se auto regularia. Ninguém prestou atenção ao matemático Von Neuman (1966), que no final da sua vida chamava a atenção para as diferenças de organização entre um organismo vivo, por mais elementar que seja, e a máquina artificial, que uma vez constituída não pode senão degenerar, ao contrário do organismo vivo.
Na actualidade, máquina e homem, parecem um só.


Lars Tunbjörk, Computer Company, Tokyo, 1996

Como nos diz a ciência, um organismo complexo como o homem, tolerará só uma certa parte de desordem por muito automatizado que ele esteja. Quando células proliferam de forma descontrolada e vírus inimigos penetram no seu interior, o sistema imunológico, a partir de um certo limiar de desordem, entra em funcionamento para restabelecer a ordem, reprimindo a desordem interna e destruindo o desorganizador externo por intermédio da produção de anti-corpos. Mas por vezes a desordem atinge uma tal complexidade, que nem mesmo os anti-corpos salvam o indivíduo.

Em 1971, com um défice crescente e uma guerra dispendiosa no Vietname, Richard Nixon, acabava com o sistema de Bretton Woods. A livre flutuação do dólar teve como consequência imediata nas empresas o aparecimento de um novo risco – o risco cambial. No ano seguinte, a Bolsa de Mercadorias de Chicago criava o primeiro sistema de negociação de futuros cambiais, que permitia às empresas, tal como o sistema imunológico dos organismos vivos, eliminarem o risco. Seguiram-se outras estratégias, baseadas em fórmulas cada vez mais complexas, como a fórmula de Black-Scholes, que ao determinar a volatilidade de um activo, permitia aos investidores através do pagamento de um prémio estabelecerem um patamar de perca sobre esse mesmo activo. No virar do século, com a revolução nas tecnologias de informação, TI,


Lars Tunbjörk, Bank Tokyo, 1999

quem quisesse, no seu computador ligado à rede, podia negociar neste mercado que se tornou ainda mais global. Tal como os vírus inimigos que penetram nos organismos vivos, especuladores e políticos, com estratégias cada vez mais sofisticadas, imunizaram-se aos anti-copos do sistema durante algum tempo, mas seguiu-se a degeneração - a actual crise mundial.

Nos anos sessenta o homem via o comportamento animal como regido unicamente por reacções automáticas ou reflexas que tinham por função salvaguardar a sobrevivência e a reprodução. A cibernética, ao quebrar as barreiras entre as ciências, influenciou à época a Etologia que modificou essa ideia do homem. Konrad Lorenz, (1903-1989), comparava o comportamento humano ao comportamento animal, ao demonstrar que na vida animal o rito é um comportamento comunicacional que transmite uma mensagem com o fim de obter uma resposta. Lorenz explicava também, que em condições perturbadoras o animal reagia repetindo comportamentos rituais,


Lars Tunbjörk,Construction Company,Tokyo, 1999

desfasados, trabalhando em seco, e evidentemente sem resposta.


Lars Tunbjörk,Lawyer's Office, New York, 1997

Durante vários anos, 1994-99, Lars Tunbjörk, fotografou o homem em escritórios, no seu ambiente de trabalho. Japão, Estados Unidos e Suécia, onde nasceu, foram as cidades escolhidas para a sua série “Offices” (2001), que nos revelam a claustrofobia da sociedade de serviços. Lorenz, se ainda fosse vivo, veria nestas fotografias evidências, de que o rito comunicacional do animal (namoro, acolhimento, apaziguamento, amizade…), não são afinal comparáveis ao rito comunicacional do homem, pelo menos enquanto este se encontra no seu local de trabalho. Isolado, completamente absorvido no que faz,


Lars Tunbjörk,Food Industry, Tokyo, 1996


Lars Tunbjörk,Accounting Firm, New York, 1997

será difícil a Bobby soprar as velas com os colegas.


Lars Tunbjörk,Stockbroker, New York, 1997

Trabalhando em espaços homogeneizados, todos eles iguais,


Lars Tunbjörk,Software Company, New York, 1997


Lars Tunbjörk,Social Insurance Office, Stockholm, 1994


Lars Tunbjörk,Bank, Sioux Falls,New York, 1998

parece evidente, que muitas das suas aptidões se atrofiaram em benefício da especialização. Lorenz olharia para estas fotografias, como o homem já olhou para o animal – um organismo com comportamentos regidos unicamente por reacções automáticas ou reflexas para salvaguardar a sua sobrevivência.


Lars Tunbjörk,Stockholm, 1994


Lars Tunbjörk,Stock Brokerage, Tokyo, 1996

Alan Greenspan entendia que a auto-regulação financeira funcionaria porque os administradores teriam acima de tudo como objectivo defender os accionistas e os Bancos onde trabalhavam. Greenspan enganou-se porque não previu os riscos comportamentais.

Só nos resta então esperar, que na desordem em que o mundo actual se encontra, o homem seja ainda capaz de transformar e inovar este mundo num mundo melhor.


2 comentários:

Conceição disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
DMPS disse...

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