sexta-feira, novembro 03, 2006

Rapariga com Brinco de Pérola


No passado sábado o jornal Expresso distribuiu o DVD “A rapariga com o brinco de pérola”, filme inspirado num dos quadros mais famosos do pintor Johannes Vermeer.

Qualquer livro de história da fotografia inicia revelando que a formação da imagem é idêntica na câmara escura, na máquina fotográfica e na nossa retina.



Recuando um pouco, a geometria euclidiana com a sua linha de fuga é anterior à criação do espaço em perspectiva da Renascença. A inovação de Brunelleschi, em 1420, está na interpretação arquitectónica da geometria de Euclides. Pouco depois é Alberti a interpretá-la na pintura. Neste novo espaço geométrico o mundo é representado no interior de um cubo imaginário. É para lá que a jovem Griet do filme olha e vê com espanto a formação da imagem que Vermeer irá pintar.

Possível arranjo da camera escura de Vermeer (Vermeer's Camera, Philip Steadman)

O espanto de Griet advém de nós não vermos segundo a geometria linear dada por estes instrumentos. Assim como não vemos os objectos que nos estão mais próximos desfocados também não reduzimos na mesma escala euclidiana os objectos mais afastados. Vermeer pinta estas distorções, e Eduardo Serra fotografa-as de forma extraordinária (o filme foi nomeado para receber um óscar de melhor fotografia).


Vermeer

No quadro “A Rapariga com chapéu vermelho”os dois leões esculpidos das costas da cadeira do primeiro plano estão desfocados.


Vermeer

Em “O soldado e a servente” a discrepância da escala das duas figuras explica a utilização da câmara escura.
No sentido matemático a perspectiva está correcta, a imagem de um objecto reduz-se em metade com a duplicação da distância, é a optica geométrica e aplica-se tanto ao nosso olho como à máquina fotográfica. Mas a realidade é percepcionada de forma diferente. Nós não vemos o mundo de acordo com as dimensões ou formas das imagens retinianas. E neste ponto sai a geometria e entra a percepção. O nosso cérebro compensa as mudanças na imagem retiniana com mudanças na distância visual, e a este processo os psicólogos chamaram de graduação de constância.


Realidade e Percepção Imagens Retinianas

Trata-se de um efeito fascinante, as correções que o nosso cérebro efectua para manter os objectos de tamanhos constantes. Esta capacidade do sistema perceptual para compensar as mudanças de distância foi minuciosamente investigada na década de trinta.

Se a fotografia tivesse sido inventada antes da perspectiva geométrica teriamos tido o mesmo espanto que Griet ao ver uma fotografia?

1 comentário:

MytyMyky disse...

hmmm... interessante!