Em “unknown landscapes”, livro que Carlos Lobo acaba de publicar, a cor verde, cor que por excelência associamos à natureza, predomina.
Nesta fotografia,
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgzDzw5JK77UHAPe5xGmSvoJNL0HItImMgFRqgpBqRYeS3oOkxsFoJyzOoaTmwmEDwcTjLrwltlYjyvsXnH0ZaN-fNNgLLa6A8o-Lth3WorRE6syZQwXEmJzamOmlAz9_bVnT7qeQ/s400/Carlos+Lobo+013+%5B800x600%5D.jpg)
Carlos Lobo
na banalidade do assunto, três portas de garagem rodeadas de àrvores, vejo a essência do livro. O verde foi a cor escolhida para dar cor às portas. Na do meio ainda restam vestígios da pintura verde, que os nós da madeira absorveram mais intensamente. A porta em madeira, parente da natureza, resiste à substituição do alumínio, ou será que está ao abandono?. O verde escuro escolhido para a porta da direita, assemelha-se ao verde da natureza, o verde berrante da porta da esquerda, assemelha-se ao verde dos caixotes de plástico que recolhem o lixo das cidades.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjn7evEh08LNQm0iNPvmltNE1UMKZzFyuqwY6oJ_9GJjCycxw8a84UqA8atZplgPRxdOk_He4xWUqbSHNmdkHfxxOBcBxK_e7hGV4aRxOJqLfGXVDWu__vOLVasSGd-KydOgoATxQ/s400/Carlos+Lobo+001+%5B800x600%5D.jpg)
Carlos Lobo
Na fotografia vemos ainda uma rede, quase invisível, suportada por postes de cimento. Serve de linha divisória entre a natureza, as àrvores, e as garagens onde se guardam os carros, símbolo da nossa civilização. É o belo e o feio apenas separado por uma rede de arame. Quase de forma invisível ou pouco notada na nossa rotina do dia-a-dia, a natureza é dominada pela mão do homem, a essência desta fotografia, a essência que vejo no livro.
Mas a natureza, de forma inexplicável, parece resistir,
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgAlLBw2tNex_N5ID_5kYqdXMGjedG36nyMv-rqGalacEGfj0nP63srUyDNpfi916YoASEfeE0PBEAsJdvg61YosVzTWGW8WlvFH-AomQVXgonZWjvFVvyEfGCQZheX6ul_Hrbj3w/s400/Carlos+Lobo+005+%5B800x600%5D.jpg)
Carlos Lobo
como estas ervas que insistem em crescer no meio do alcatrão da cidade. Noutras, é a cidade que parece resistir ao verde e às formas orgânicas, preferindo o azul, encarnado e amarelo e as formas geométricas.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjLYi-a52hPXBjD-H-oqjNikr1r73PZ-MPr9FxxH20QOWhCRkx74gtUiX2ySiQCIl6FqSgqBHwagoJY3DZl9TqWoCQQrDGq2qKwRVPls50WEyLSL5Sq5wXGQydkxtVckjJu6dHv9w/s400/Carlos+Lobo+004+%5B800x600%5D.jpg)
Carlos Lobo
Mas nos subúrbios, o verde também não resiste aos salpicos de amarelo e encarnado que vêem da cidade
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh6vvziHTdKA9QLMNpsq6OxKm7JsUJq_htTR-FHPCGZvMX1kV2oXaJKpua0Q9Sf95VHxRvRpgV7PuvJLxtPq1uwEQrJQIwmiD2fqj8at_EgWI4OqNDS2SOurlY6_cripfZwvgo8oQ/s400/Carlos+Lobo+011+%5B800x600%5D.jpg)
Carlos Lobo
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj7xQlX3fiAi4CNsBCdD-li5sTGM4Qayci97FLVcC1PRe5b2w9_kLNCGEa7Hxk2i6xGdq5g69plYmhRTjNoNAm8nnOx80qHXSSrxkmODXSYbugzRku-yZZzq0O89WL2M5-ijL_oMw/s400/Carlos+Lobo+012+%5B800x600%5D.jpg)
Carlos Lobo
e onde a linha amarela demarca até onde foi a mão do homem.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhMNVnQc-qbIFoZybSd_SienYdu4PgK2yqhe2kNpvpIgymhOHkFt_0hKVKtU377NXp1XYr7LaEduTqNzFvSBS-a_u9EVQCcOvLvwybm-4l9VwJCZHUQDcobIwMIEBvuHQ19T2J5sA/s400/Carlos+Lobo+%5B800x600%5D.jpg)
O papel, para quem olha para as fotografias do livro, é semelhante ao do arqueólogo, que escava à procura de sinais, indícios e vestígios dos locais que investiga, faz parte da natureza humana. Carlos Lobo nada nos revela sobre o tempo e os espaços que nos mostra. Mas por vezes, nas suas fotografias, os espaços emitem sinais: uma matrícula,
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjqy5_Axpg6A-6QV7LH9TzMAjSp4UU0_cyzCmyJMVxoCIXj0-fTltX7KPCilI4DeufG88MGBAW6PXKSa_9MKQiRUG7mpwC4VXo2EGrYUjf_8xoRtR4guNZQo6D4CvuOlR7CFW7tYg/s400/Carlos+Lobo+003+%5B800x600%5D.jpg)
Carlos Lobo
um anúncio de restaurante, revelam o país por onde passou.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEju2Uo0jwfseXLC27ybpx9TF3NFLSiWnYWbNFKazJ-FrDKgjKYIdMMhNMphp0ZKe5GQT6pyFKc8Bx2Ac86eomZzI3uo1fc71M1GKq19JSrcq-UEm6QgZAMoBWX_t4FzhxPewZby7w/s400/Carlos+Lobo+010+%5B800x600%5D.jpg)
Carlos Lobo
Conheço Carlos Lobo pelo que escreve no seu Blog e pelos comentários que por vezes deixa no meu. Gosta de Dan Graham e de Stephen Shore, que foi seu professor num curso que tirou na Fundação Gulbenkian.
Dan Graham, na América, fotografou as casas dos subúrbios que surgiram no pós-guerra, standardizadas, pois a urgência ditava as regras. Graham ironizou a perca de individualidade que aí se vivia. Mas os subúrbios continuaram tema recorrente na fotografia americana. Com William Eggleston os subúrbios e a cor entraram pela primeira vez nos Museus, estavamos em 1976 e John Szarkowski, à época curador do MoMA, achou as fotografias fascinantes, porque o oposto do que se esperava. Eggleston preferiu a banalidade dum bairro residencial e as suas fotografias confundiram-se com a dos álbuns familiares. Eggleston descreve os subúrbios no início.
Conheço Carlos Lobo pelo que escreve no seu Blog e pelos comentários que por vezes deixa no meu. Gosta de Dan Graham e de Stephen Shore, que foi seu professor num curso que tirou na Fundação Gulbenkian.
Dan Graham, na América, fotografou as casas dos subúrbios que surgiram no pós-guerra, standardizadas, pois a urgência ditava as regras. Graham ironizou a perca de individualidade que aí se vivia. Mas os subúrbios continuaram tema recorrente na fotografia americana. Com William Eggleston os subúrbios e a cor entraram pela primeira vez nos Museus, estavamos em 1976 e John Szarkowski, à época curador do MoMA, achou as fotografias fascinantes, porque o oposto do que se esperava. Eggleston preferiu a banalidade dum bairro residencial e as suas fotografias confundiram-se com a dos álbuns familiares. Eggleston descreve os subúrbios no início.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiUFtuTA0k1gU9zCunXbnh2i1jO1JA16Vb_xgNKhkVo3_BiqPkrWK0cfObhezPLyqZ5Nrc-MiQ5i1yOX79Oks25fZ-ucGXx4e06MpTIp1A95VuxnM7jm5JhOmasT7F6KOhgCyJUtw/s400/Eggleston+%5B800x600%5D.jpg)
William Eggleston, Southern environs of Memphis, do livro William Eggleston's Guide, 1976
A casa recuada que vemos da estrada estava antes no meio do campo, agora desenraízada não segue a linha da estrada das casas em frente. Ao deixar as cidades já não se entra no campo, passa-se por uma nova fronteira que são os subúrbios. Carlos Lobo pertence a outra geração, e os subúrbios que fotografa já são os subúrbios habitados por outras gerações. Vai buscar a Graham e Eggleston a banalidade do mesmo assunto, mas agora, longe da aparente ordem dos primeiros subúrbios, amplia para nos dar a ver melhor, os detalhes de uma geração que adapta e transforma os subúrbios à realidade do seu dia-a dia, surge o caos e a desordem.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiIcJMcxYgmx_UU1aPWRDUav4puCzTeWf2E25SesTpOozGLSQXeUl6ejXdbOQhHDIKC2Yr6So0pnQ2wXoM_75qvRZFoZ444MoGdXA3RQ5e8Ocp2ESjsJtTcoMy_m-PFci_F_1gBWw/s400/Carlos+Lobo+006+%5B800x600%5D.jpg)
Carlos Lobo
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjA_Bv5te52UmAbgnpP57TkFC6hz5o4SqHzllDMMgwK_A9CdcxmdoxyO0RkdOeLL6gD31V4C13CHlOtATJKO27hTiMKQcUwen8HG_H2GWL4PFQ1EunrbBE6t6QK0Ue5i0uBRH_h2w/s400/Carlos+Lobo+002+%5B800x600%5D.jpg)
Carlos Lobo
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiMQIVjZDMP6z9rvZ4vwxEGtT3d9CEfeNAj_K6VhxIwVRvGyIlh20ECloHI-CglJ0Zy9ozoJXldlM-LDQmINQsqu754PC9e8hDsTZepCUD3A4LHWmaCHkMNxL09W3BMxmxuPfHyRA/s400/Carlos+Lobo+008+%5B800x600%5D.jpg)
Carlos Lobo
Certamente não me engano se disser que Carlos Lobo aprecia “26 Different Endings”, o último livro de Mark Power, editado em Março deste ano. São os subúrbios que caem fora do A-Z London Street Atlas.
Mas sem esperarmos, a seguir a uma curva,
Mas sem esperarmos, a seguir a uma curva,
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjygAEUER-7MVFDMK5jspqOpRX2z59jofyaF2uXaKo3egHW48L_5FncUaUQKZk5bCuzuJOu1yFdaC2pfyiv_btNLz_yxVUVtRdaTMagbzBUE87d9nzrhYHIJ4zz8WXMublSkbYbzw/s400/Carlos+Lobo+007+%5B800x600%5D.jpg)
Carlos Lobo
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj897_TwRnX8KwMQP-TZ4sqBFrX9XGPNldPJlWpIp0KiMpnrossBOT2aBVZTVImwBd4eSqAMLbv0j9ttdExmNUJqKA8KQh37j5Ljkf3yaTe8FAHj8T1H7EOkxWzjA6ECH49Uqb7dA/s400/Carlos+Lobo+009+%5B800x600%5D.jpg)
Carlos Lobo
entramos em cidades, vazias de tráfego e pessoas mas cheias de dejectos deixados por quem aí esteve.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgZRaKQ93tCr6MA1a7kV3wm1hxBUPnBGHdy1VHqrWXV6bWAzrrIo8KJG4kpvl8wqcGCDIZP0atEQEbcks5XMNuKOUDTfuteNd67DCA72xKoFiT2X3HUicgfU4lfsusr5KqibXo7Ew/s400/Carlos+Lobo+014+%5B800x600%5D.jpg)
Carlos Lobo
Carlos Lobo prefere a sordidez às grandes maravilhas arquitectónicas, o banal ao estético.
“unknown landscape” inicia numa estrada,
“unknown landscape” inicia numa estrada,
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhrqGno2WSKA-tq8gYK9LGZqEwL1RTvlvDphSJfmNf00PG9E5Qqr9yhzgWvHDFWp9dZ8hPH8o_PO70CJQobZq1X_Wxs8Amabxfw7N-sRDYQh9LHtKLHjZJIKaejvhUi1q36V2UOzg/s400/Rodchenko+%5B800x600%5D.jpg)
Carlos Lobo
que não fora o candeeiro, julgávamos já estar no campo e termina numa estrada que nos leva a um emaranhado de verdes deixando para trás o negro da poluição.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiqZaQblAy4IAu7baxjbTqF9R2U2NCbywN-8h7YqFmVQtkLNe_sSGYu4FYaOFcxMRKwNk-lmT8WDr6SseO4YDgi0gHkggIXvBPDBawi0HGTUJikkSQw6nYkbduHeRHaf7KvbBgwjA/s400/Carlos+Lobo+015+%5B800x600%5D.jpg)
Carlos Lobo
Sem comentários:
Enviar um comentário