Os organizadores de Pulse Miami, uma feira de arte contemporânea que terá lugar nos dias 6-9 de Dezembro, decidiram começar já a divulgá-la.
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Publicidade de Pulse Miami, na revista Modern Painters
Como o verão já aí está, nada melhor que esta praia de Massimo Vitali para a publicitar.
Representado pela galeria Brancolini Grimaldi Arte Contemporanea, Vitali na última feira Paris Photo, tinha à venda "Coney Island, New York" por € 18.320.
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De grande formato as fotografias de Vitali dão-nos a impressão de serem completamente artificiais.
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Massimo Vitali, Rosignamo Beach, 2003, (180 x 225 cm)
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Massimo Vitali, Beach, 2003
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Massimo Vitali, Viareggio Tuffo, 1995
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Fruto da publicidade e dos media em geral, a nossa experiência com o mundo torna-se cada vez mais artificial assim como a própria realidade se transforma cada vez mais em imagem. A linguagem visual utilizada pela publicidade é complexa, simulam documentar o real, para nos sugerirem um mundo ficcional, e quando olhamos para as fotografias de Massimo Vitali, férias na praia, já não sabemos se estas praias são ou não reais. Durante anos a fotografia foi considerada registo do real, hoje acontece precisamente o contrário. Qualquer um de nós sabe que as fotografias que vemos nos jornais, revistas, internet...podem ser totalmente artificiais, ou seja, a fotografia já não precisa do real.
Quando olhamos para esta fotografia de Weegee tirada em Coney Island, ficamos surpreendidos... como é possível tanta gente.
Quando olhamos para esta fotografia de Weegee tirada em Coney Island, ficamos surpreendidos... como é possível tanta gente.
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Weegee, Crowd at Coney Island, They came early, and stayed late. 22 July 1940
Em Nova Iorque, naquele dia de domingo (22/07/1940), os termómetros chegavam aos 40º graus. Hoje quando olhamos para a fotografia não nos ocorre duvidar se Wegge acrescentou pessoas através de fotomontagem ou outro processo qualquer. A fotografia representava o real, e as estimativas confirmavam o real da fotografia, mais de um milhão tinha estado em Coney Island. A fotografia é publicada no jornal PM. Para atrair a atenção dos banhistas (?) Weegee acenava e gritava para olharem para cima.
E esta fotografia de Vitali?
E esta fotografia de Vitali?
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Massimo Vitali, Viareggio air Show, 1995
Vitali não manipula as suas fotografias, utiliza tal como Olivo Barbieri, Marc Rader que fotografam a arquitectura das cidades, câmaras analógicas de grande formato e o resultado são fotografias que mais parecem ficcionais do que reais.
Em cima de uma plataforma com cinco a sete metros de altura, ao contrário de Weegee, espera o tempo suficiente para que as pessoas voltem às suas actividades normais, e é nessa altura que começa a fotografar. Férias na praia, é tema com que a publicidade já nos familiarizou. As fotografias de Vitali são reais, mas provocam-nos uma sensação de estranheza, Vitali põe em evidência a ficção que as imagens comerciais criaram.
Os fotógrafos de hoje, como os de ontem, estão submetidos ao seu tempo. E se hoje as praias de Vitali nos causam alguma estranheza pela artificialidade que sugerem já a praia de Coney Island, tão fotografada na década de 1940 representa a realidade da época.
Vitali não manipula as suas fotografias, utiliza tal como Olivo Barbieri, Marc Rader que fotografam a arquitectura das cidades, câmaras analógicas de grande formato e o resultado são fotografias que mais parecem ficcionais do que reais.
Em cima de uma plataforma com cinco a sete metros de altura, ao contrário de Weegee, espera o tempo suficiente para que as pessoas voltem às suas actividades normais, e é nessa altura que começa a fotografar. Férias na praia, é tema com que a publicidade já nos familiarizou. As fotografias de Vitali são reais, mas provocam-nos uma sensação de estranheza, Vitali põe em evidência a ficção que as imagens comerciais criaram.
Os fotógrafos de hoje, como os de ontem, estão submetidos ao seu tempo. E se hoje as praias de Vitali nos causam alguma estranheza pela artificialidade que sugerem já a praia de Coney Island, tão fotografada na década de 1940 representa a realidade da época.
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Harry Lapow, Coney Island, 1958
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Morris Engel, Coney Island, 1941
Coney Island, escreveu uma vez Jorge Calado, está para os americanos como a Nazaré está para nós, portugueses. Ainda hoje me recordo da cara de espanto de um nova iorquino quando há uns anos lhe disse que quando fosse a Nova Iorque visitaria Coney Island. Para mim estas praias no sul de Brooklyn fazem parte de Nova Iorque tal como a quinta avenida em Manhattan.
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Desde 1890, que Coney Island serve de praia aos nova iorquinos. No verão este areal banhado pelo oceano atlântico é refugio de muitos para aliviar o calor. Por uma importância pequena, um nickel em 1940, nova iorquinos apanham o subway até Coney Island. Mas será que conseguem aliviar o calor?
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Sid Grossman, Coney Island, 1947
Se chegar à borda de àgua é tarefa difícil, porque não tentar um chuveiro?
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Morris Engel, Coney Island, 1941
Walker Evans fotografou os casais de namorados que para lá iam se divertir nos parques de diversão. Na década seguinte, foi a praia que entusiasmou os fotografos.
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Bruce Gilfen, Coney Island, 1968
A seguir vieram os anos em que a zona se degradou e Bruce Davidson fotografou os gangs de Brooklyn em Coney Island.
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Bruce Davidson, Coney Island, da série Brooklyn Gang, 1958
Revitalizada a zona, a pesca é hoje um entretém e no Verão os areais lá se enchem novamente como mostra a fotografia de Vitali tirada em Coney Island no ano passado.
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Hoje escreve-se que já não há fronteira entre real e ficção. Mas será que a nossa percepção do real mudou assim tanto? Em dias tórridos ao olharmos para as nossas praias pensamos em Coney Island ou nas praias ficcionadas da publicidade?
3 comentários:
e por falar nisso... http://www.nytimes.com/packages/html/magazine/20070531_VINCENT_FEATURE/blocker.html
Nos últimos cem anos, mais coisa menos coisa, o costume de ir à praia foi, não apenas um prazer, mas um verdadeiro factor de afirmação social. Iam a banhos sobretudo as classes altas e as massas urbanas que pretendiam ascender a tal posição. Depois as coisas massificaram-se, como se existisse um direito universal à vida saudável, pelo menos no período de férias. Hoje, distinguem-se as praias da populaça e as praias distintas (geralmente de difícieis acessos), onde se pretende encontrar o máximo de natureza selvagem e o mínimo de gente. Mas as coisas estão a mudar: a ideia de férias divertidas e saudáveis à beira-mar começa a ser substituída por advertências médicas contra os crescentes malefícios do sol sobre a pele (diz-se que o sol se está a tornar doentio devido à poluição atmosférica) e os perigos das águas inquinadas que desaguam em algumas das mais famosas praias do mundo e também nos paraísos ditos ecológicos.
Restam-nos para já os registos fotográficos, milhões de registos,
realizados por pessoas comuns que se tornavam fotógrafos amadores durante as férias, por profissionais e negociantes da fotografia que tiravam partido da grande afluência de gente na época estival, e sobretudo por grandes fotógrafos cuja visão, neste campo como noutros, talvez sobreviva à era da massificação dos costumes a que actualmente chamamos globalização.
As fotografias que a Madalena nos mostra, para além do seu interesse estético, não deixam de documentar um costume contemporâneo possivelmente em vias de extinção.
Abraços.
Tomé Duarte é algum artigo que sugere para consulta no N.Y.Times?
Mesmo cientes dos malefícios do sol em dias de calor é impressionante como as nossas prais ficam ainda apinhadas. Julgo que ainda vai demorar algum tempo na mudança de hábitos.
um abraço
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