Escrevo novamente a propósito da exposição INGenuidades, Fotografia e Engenharia 1846-2006, e não será a última, ao revisitá-la encontro sempre novos estímulos. Olhemos hoje para um detalhe, as duas fotografias que Jorge Calado, comissário da exposição, escolheu da China.
O número de fotografias com que a China está representada na exposição, duas, é insignificante se compararmos com o número de fotografias da Austrália ou Estados Unidos. Numa exposição tão vasta como esta, 350 fotografias no total, duas fotografias serão suficientes para representar um país que se destrói e reconstrói a uma velocidade estonteante e cujas transformações por si só poderiam representar todas as engenharias?
Ambas as fotografias da China são tiradas por estrangeiros: Francis Frith (1822-1898, Chesterfiled) e Edward Burtynsky (1955, Ontário). Tão distantes no tempo, é necessário transpôr o século o XX para as ligar, nenhuma delas entra nas engenharias da exposição.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhpu16EL8l9ENPoRmyP3Xn4YQ6-7DnlwDlW5c9tABGOFSLAUIb7epQJLaKNnRkYlmQc81RQ8yYgK893Gv47_-MOfsB5oCkDEdnMxOZfAwHr11iCs996OmKFOQRRIuQWDxW2JzAw/s400/Viva+013+%5B640x480%5D.jpg)
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgWNBM7vT6Sr5_nH8XHlgbhh5pB6eUMFk_CfsNnjAfXehRgDyLez8BsevHoGIdJorkT8ruVqvFN0neFv03Dbtdholn0vafECA3GzyhsWpnrPYUfTchSN8oPRF5cY2uEmmZZwOug/s400/Viva+015.jpg)
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjejB-tgEhfCND4Evhs7Lgo7SIFUlX3RKyPKfHB3WlknibXRXRJGi_FilIdinB3UIWe3frNHU5sR6E73QZPy-AJJLcj_QneNOdiUBJ-3GJsf34CKPLowDWCgOkBVJsrA6oqJzjc/s400/Viva+010+%5B640x480%5D.jpg)
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEirkUmFFqW74GGmkH1g9qZpOUHsZ7IZSI-PLiphyIYAdIeIeu_anIAk8cHCREHNvQGuSaxn1YoMCKtqb8sA05Q5If3v-VdL8XSlx8kr4CwQKG2BKS1xftEz_LPo6PtLbofEDyMr/s400/Great+Wall+of+China,+c.1860,+Francis+Frith+%5B640x480%5D.jpg)
A outra, a de Burtynsky, encontramo-la no tema Água, o elemento regenerador da vida.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjqR4NbDt01z9iAmF2Dmow4l-oHStlUzTbhir0iNIa53aaMHkuK9bEvcK0se7RxTczoqZTiCLHrLOeFe8aNzZClc9wqvR1SUMP9U040nklW1tF8ubAr-LJq1ln5Bvp15cXEVgjJ/s400/Viva+014.jpg)
O interessante é a reclassificação da Biblioteca depois deste trabalho de Haaften. O que antes estava na secção judia sob a classificação de Jerusalém, está agora na secção de arte na categoria de Auguste Salzmann, o que antes era Egipto está agora classificado como Beato, Maxime du Camp, Francis Frith, o que antes era Alpes Suiços é agora irmãos Bisson e assim por diante... ou seja, as buscas são agora feitas em nome dos fotógrafos e não dos locais fotografados.
“O que fez Haaften na biblioteca pública de Nova Iorque é só um exemplo do que ocorre na nossa cultura em grande escala”, continua Crimp. Os livros sobre o Egipto, país onde Francis Frith fez mais expedições e editou mais de sete álbuns fotográficos, são agora desmantelados para que as suas fotografias se possam exibir nos museus.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjhCP89I2-dQDEGw3ydaKNDmsuVQrGpaP4z-rLgbFVdx4VfkPLpHH8H5i1YMQHLqJM3yb9MgCehd552FbzWNJIGKaykPr5BozHSMYVfGyWD-7yV9ogNzHrWtNvOfrdXeZgxmiU7/s400/Rameses+II+in+Abou+Simbel,+Volume+III+1857.jpg)
O artigo de Crimp é de 1981, época em que a fotografia começava a entrar nos museus. Ao fim de trinta anos o panorama é bastante diferente, hoje é raro um museu não ter fotografias na sua colecção.
A visibilidade dos trabalhos fotográficos faz-se hoje através de livros,
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhWmeWZtfsgbgiaAICrC7pppjwgNeXwUz_IBjj5vRFuE7huG9uxCUeuzG-Z1LY5gXaI3Rmjuy332fjeYZz9u-fdyGjaWQ3aO7Su8Pd74uEsVTouQrDW69LtgNKmDy6Wm5PyzryM/s400/chinabook.jpg)
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhPmOOuZp8LtuFtEgLgJMiquhRRxAaBYSDDyqYVlC-yTdPaSfiwLWLXQzmLWNqPnpty4kuIRCZMUfGrB5BhPKsWxzwnExqsx91eP3DN4kaTFuNqoL4oJUWPo5auCa1aPulsCZhN/s200/Burtynsky,+China+2005.jpg)
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi8d_LPql2bbwxDWa4H_2hiyOQKV7YuEFDF-8AYe0qX8JjHGRcdlYxdarh0LK_9xPO3Y9kI1phaGiPuySGYH1oBtJ7lEqBLo36lJanpRot1Fs_bRcNjZzVnbRYxsvO3fpoOPONE/s200/Burtynssky,+exposi%C3%A7%C3%A3o+sobre+China+2005.jpg)
Se Crimp no artigo alertava para o risco de a fotografia ao entrar no museu ficar enclasurada e reduzida aos valores estéticos, o trabalho de Burtynsky não lhe dá razão, o carácter informativo das suas fotografias prevalece.
Burtynsky trabalha com séries que abrangem vários temas que afectam o nosso planeta, refinarias, campos de petróleo, contentores, desmantelamento de navios, minas...estas últimas podemos ver na exposição.
A sua série sobre a China, é iniciada em 2002. Burtynsky mostra a industrialização galopante e os seus efeitos na paisagem e nos habitantes. De tão vasto, Burtynsky sub-divide este enorme território em vários temas: cidades e urbanismo,
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiYrSLSNIjAMX6z21HkY8gnax3AWbaF2BAYNlDYBPIql8uKqDY1pMQngftOmJeCqlEjj_Fy2Vj09YKnTfWcfCNe7OJ7Cks3xLicYDEExYCxg72RFRwth-Nst9V72Pqxe5OLO3ca/s400/City%232.jpg)
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj53n4Gj_JymO08r-aKMUXrJbySIZo3sGX1WGeX56H5wMmWZMlZr79zcuEiQT7wvCrVYTQ0u7UsqCnejTRpzgNW5E3TWR9cB_qImWQNruhzffMpuJFpge5f2A25w_-Fy_kkzG55/s400/Urban+Renewal+%2310+Shangai+2004+%5B640x480%5D.jpg)
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiUr2_fjgjrWk0HbKli6mNUEtquOHrFMWBvUB8bh9l_qK_YBIFiVSok7jTr0DAW5INOyY0iRv7Y9IoPi8vtAlF0iWlZuhyphenhyphenz3hxgzhgI8X6bgWo9nrGVeks_k8qx-ogQ72G8y6Ml/s400/Manufacturing+%2317,2005.jpg)
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjPavT25jvtwA7F8n7k-eMQvLZI5cNc2Q8-exzbPJuk2SFGCjb9uC16PJ8azLilUbLA_PQX6k3T_qTZOfTDEIL-zAah3KU0z6lcU0jWcKvpiyN_2uPlarELSs7yAJAbHRtt4_to/s400/Bao+Steel+%239,+Shangai,+China+2005+%5B640x480%5D.jpg)
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjhA6F8uymF5GgFw2qWkh2d4NXj9gfAi28JcDLVc46h6y7A49fq72llMKnha5M3zhIKjMlM3ITPOxLX5c80w_XOKKOwMex8IpyAmVfBjFwlPZeKhpEQeWXWJN_S81Cn_hk_dOmF/s400/Shipyard+%2314.jpg)
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi4KL_tfjPPp3U2jjiTaFkNzMYsdo18rXQI4zRwm-IHVJr5JwJkdC96Fpza2vB9RKzTyxpEsotRYyqh7cxMbt-ObAANlYOQHwL5EwlmTjdKE3eXimHec2RwskQCmQEMZMkiVb2f/s400/China+Recycling+%2315+2005+%5B640x480%5D.jpg)
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjrp2L2RUBZwYHLA6A3M5j7eKEuru3vyjL7syHi4oxZxwSegutoscLwa5OqF7yEaYUcdQ1rg-m9kLMZiIFnNZt-qoV6ivpyoPyihHrbzX2rQsC03q7RF1JhrgxtR5sCZadbAqvb/s400/Feng_Jie_5.jpg)
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi11Sq6a7dDw5dT9-G9gwt6tC9b3EHo2APNgP1uI-J3ZW5yPfgWEn7pvQ_lkahMdXpYGIzs0gWeRxdWwZwrMOJRONr8aiqF9n_l6Nr4HQotqdPIFZdA4KWQxIEZpZjH0QntmnwU/s200/Feng+Jie+%232.jpg)
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi34OTAm_8ZlvXDutJ_RybfOKCHu9Wcm4J4lMyeZSMzFr4eBzhxRQ2MctAE68q7FxG28qhYKis5BDfWJzbJ5RaOxnoapBdxYEmrCrm-hud8xsn3H1wOI2v84dh1r36MIEtKdABb/s200/Feng_Jie_6.jpg)
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhelZAVJnlqC7Ru9lmcm4wmT19yrl5DvNhEkIyDdFBdkFrEEp6vkpVWuG0H8ql39WubokVcGxaYhabZToqJNC_wA6VYQDV5I_tk2OSX3A9LjuvPAss8AS1Kmiuua_79Al2XL34U/s200/Feng+Jie+%238.jpg)
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhzIJDhD0xIdq_jzQzjHHOAfkYXSQZHvswz2Qr1ffQqT5C2TjdN_VjIknWhvdi3By0qqrq1w_Pb6H5K8uXcnrweW2h6OW4QpUXTunPHHBJM8rShzQabM4cdNLIEzDB8BN-qjISl/s200/Feng+Jie%2310.jpg)
Calado escolhe só duas fotografias para a China: A Grande Muralha da China, símbolo da sua história, e Projecto da Barragem das três Garagantas Feng Jie #5, construção monumental para uma melhor gestão de um bem que escasseia, a água.
É na dualidade, da explosiva expansão económica simultânea com a perca das tradições, que a nova geração de artistas chineses se exprime. Calado mostra separadamente esta dualidade, os valores históricos do país e as construções monumentais em curso. Não eram precisas mais.
Sem comentários:
Enviar um comentário