“Porque hão-de ter hoje os velhos sempre razão contra os jovens, quando o amanhã dá sempre razão aos jovens contra os velhos?” José Ortega y Gasset.
Como dissemos no post anterior, Baudelaire via na mecânica fotográfica, um mal que conduziria ao empobrecimento do génio artístico. Baudelaire criticou ferozmente a fotografia porque a receava. No entanto, o mesmo Baudelaire deixou-se fotografar pelo seu amigo Nadar e acabou a gostar dos seus retratos...
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Se na época de Baudelaire a arte não podia ser mecânica, porque era mais confessional, autobiográfica - na lírica procuraram os amores e as dores do homem que palpitavam por trás do poeta - hoje, o prazer das antigas formas monumentais da alma descritas nos romances e poesias esgotou-se, pois chega sempre um dia que a magnífica pedreira acaba, e é então chegada a hora de uma nova sensibilidade ser capaz de detectar novas pedreiras. O homem, num esforço constante de alargamento das suas fronteiras, ajusta o seu aparelho perceptivo e procura novas fontes. Hoje, é no mundo conceptual, ou talvez até melhor dito, no mundo da subjectividade perceptual, que o homem encontra a sua nova pedreira.
Olhemos para a série, “nowhere near”, 1999, de Uta Barth:
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Uta Barth, nowhere near (nw 11), 1999
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Uta Barth, nowhere near (nw 9), 1999
Trata-se de uma questão de óptica de extrema simplicidade. Para vermos um objecto, temos de ajustar de certa maneira o nosso aparelho ocular. Se o nosso ajustamento visual for inadequado, não veremos o objecto ou vê-lo-emos mal. Imagine o leitor que está a olhar para o jardim, através do vidro da janela da casa de Barth. Os nossos olhos ajustar-se-ão de maneira a que o raio de visão penetre o vidro, sem nele se deter, e apreenda as àrvores. Como o alvo da visão é o jardim e é sobre ele que se projecta o raio visual, não vemos o vidro, o nosso olhar atravessa-o, sem que dele nos apercebamos. Quanto mais puro for o vidro, menos o veremos. Mas, em seguida, fazendo um esforço, podemos distrair-nos do jardim e, restringindo o raio ocular, detê-lo no vidro.
Trata-se de uma questão de óptica de extrema simplicidade. Para vermos um objecto, temos de ajustar de certa maneira o nosso aparelho ocular. Se o nosso ajustamento visual for inadequado, não veremos o objecto ou vê-lo-emos mal. Imagine o leitor que está a olhar para o jardim, através do vidro da janela da casa de Barth. Os nossos olhos ajustar-se-ão de maneira a que o raio de visão penetre o vidro, sem nele se deter, e apreenda as àrvores. Como o alvo da visão é o jardim e é sobre ele que se projecta o raio visual, não vemos o vidro, o nosso olhar atravessa-o, sem que dele nos apercebamos. Quanto mais puro for o vidro, menos o veremos. Mas, em seguida, fazendo um esforço, podemos distrair-nos do jardim e, restringindo o raio ocular, detê-lo no vidro.
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Uta Barth, nowhere near, (nw 10), 1999
Então o jardim desaparece dos nossos olhos e dele vemos apenas algumas massas de cor confusas que parecem coladas ao vidro. Ver o jardim e ver o vidro da janela são duas percepções incompatíveis: uma excluiu a outra e cada uma delas requer um ajustamento ocular diferente. Barth põe em relevo as leis da organização que regem a nossa percepção, enunciadas pela psicologia da Gestalt. Entre figura e fundo, janela e jardim, a diferença entre visão próxima e visão distante. Dois modos distintos de olhar, dois pontos de vista, que se opõem ao modelo clássico, o do ponto de vista único da perspectiva geométrica renascentista. Barth considera que a fotografia é um meio que serve para agudizar a nossa percepção. Onde acaba a imagem e começa a percepção?
Ao olhar para uma fotografia não é o homem capaz de deixar as distorções e agudizar as percepções? Não foi a partir das aberrações ópticas dadas pela máquina fotográfica que Picasso se inspirou para dar movimento às suas figuras?
Ao olhar para uma fotografia não é o homem capaz de deixar as distorções e agudizar as percepções? Não foi a partir das aberrações ópticas dadas pela máquina fotográfica que Picasso se inspirou para dar movimento às suas figuras?
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Pablo Picasso, Au bord de la mer, 1920
Para os artistas da Bauhaus, Johannes Itten, Josef Albers,...a fotografia serviu de meio para ilustrar as novas leis gestaltistas.
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Johannes Itten, Berlin, 1929
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Josef Albers, Hanging Clothes
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Josef Albers, Birds
Será a fotografia afinal perversa, como refere Thomas Bernhard? Será que a fotografia é culpada de tornar a Natureza em algo perversamente grotesco? Ou será que a fotografia serve de desculpa à perversidade do homem actual?
Com Thomas Bernhard regressemos ao último post, e tentemos dar resposta à questão aí colocada: “Mas quando é que se dá a verdadeira ruptura com o modelo da Renascença?”
Jonathan Crary, em “L’art de L’observateur: Vision et modernité au XIX siècle”, analisa os fenómenos, que no início do século XIX, tiveram um papel crucial na visão actual e que produziram um novo tipo de observador. Para ele a ruptura do modelo clássico de visão não se limita a uma mera mudança de aspecto das imagens nem a uma mudança dos códigos de representação. Ao contrário do que referem a maioria das histórias de arte, que apontam Édouard Manet, o impressionismo e pós-impressionismo, como a origem da arte e cultura moderna, Crary recua uns 40 anos, 1810-30, que precedem mesmo o aparecimento da fotografia (1839), e aponta a psicologia e a fisiologia como as causas da grande ruptura do modelo clássico. Trata-se da passagem da óptica geométrica, dos séculos XVII e XVIII, para uma óptica psicofisiológica que domina os primeiros anos do século XIX.
Com Thomas Bernhard regressemos ao último post, e tentemos dar resposta à questão aí colocada: “Mas quando é que se dá a verdadeira ruptura com o modelo da Renascença?”
Jonathan Crary, em “L’art de L’observateur: Vision et modernité au XIX siècle”, analisa os fenómenos, que no início do século XIX, tiveram um papel crucial na visão actual e que produziram um novo tipo de observador. Para ele a ruptura do modelo clássico de visão não se limita a uma mera mudança de aspecto das imagens nem a uma mudança dos códigos de representação. Ao contrário do que referem a maioria das histórias de arte, que apontam Édouard Manet, o impressionismo e pós-impressionismo, como a origem da arte e cultura moderna, Crary recua uns 40 anos, 1810-30, que precedem mesmo o aparecimento da fotografia (1839), e aponta a psicologia e a fisiologia como as causas da grande ruptura do modelo clássico. Trata-se da passagem da óptica geométrica, dos séculos XVII e XVIII, para uma óptica psicofisiológica que domina os primeiros anos do século XIX.
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Exame do Olho, desenho de Nicolas- Henri Jacob, Tratado de anatomia do homem, 1839
Estuda-se a persistência das imagens retinianas, a visão periférica e binocular, os patamares de atenção, com o objectivo de determinar normas e parâmetros quantificáveis. David Brewster, um dos inventores dos aparelhos esterioscópicos, Joseph Plateau, o primeiro a criar os aparelhos de ilusão de uma imagem em movimento, o fisiologista Gustav Fechner e Goethe, com a sua obra “A teoria das cores”, 1810, na qual distingue cores “físicas”, “químicas” e “fisiológicas”,
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Goethe, 1797
todos os quatro analisaram, na mesma época, os fenómenos das imagens residuais e da persistência das sensações retinianas. Precedendo os gestaltistas, que para enunciarem as leis das estruturas perceptivas globais submeteram à experimentação não matéria mas os fenómenos psíquicos do homem, Fechner, quantifica as sensações a partir dos estímulos que as produzem, e a sua conhecida lei - a lei de Fechner - a primeira a quantificar uma grandeza subjectiva. Ele descobre por exemplo que a intensidade de uma sensação de luz não aumenta tão rápidamente com a intensidade do estímulo físico, concluindo que a relação não é proporcional. Todos estragaram a vista ao olhar para a luz solar, e Plateau acabou mesmo por cegar. Joseph William Turner, o pintor e amigo de Brewster, Plateau e Fechner, é um dos primeiros a rejeitar a perspectiva geométrica. O seu interesse pelos processos psicofisiológicos da vista levam-no por outros caminhos. E na sua obra são vários os exemplos. No seu quadro, “Regulus”,
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Joseph William Turner, Regulus, 1828
que retoma o nome do general romano, que foi castigado e preso pelos cartagineses por não saber negociar junto de Roma a libertação dos prisioneiros, é-lhe destinado um castigo terrível, tiram-lhe as pálpebras e obrigam-no a olhar para o sol até cegar. Ao olhar para o quadro não vemos a figura de Regulus, antes um sol que se funde com o olhar, o que cegará Regulus. De Goethe, que lê com entusiamo o seu livro, Turner presta-lhe homenagem em “Luz e cor (a teoria de Goethe)”, 1843.
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Joseph William Turner, Lumière et Couleur, (La théorie de Goethe) - Le Lendemain du déluge, 1843
No quadro as cores parecem girar formando um vortex central, formando uma verdadeira estrutura hemisférica na qual se fundem os raios solares, a superfície do olho e o conjunto de imagens consecutivas produzidas sobre a retina pela brutalidade do clarão.
Mais tarde, 1912, é esta incandescência órfica, que Frantisek Kupka pinta em “Estudos dos discos de Newton”, onde quatro discos de cor, reconstituem, pela persistência retiniana, um branco luminescente.
Mais tarde, 1912, é esta incandescência órfica, que Frantisek Kupka pinta em “Estudos dos discos de Newton”, onde quatro discos de cor, reconstituem, pela persistência retiniana, um branco luminescente.
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Frantisek Kupka, Estudos para os discos de Newton, 1912
Kupka, consagra também numerosas análises ao funcionamento do olho.
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Frantisek Kupka, modelos de fundo do olho representando diferentes estados fisiológicos, 1923
Fascinado pela descoberta dos raios X de Roentgen,
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Wilhelm Röntgen, O primeiro Raio- X Humano, 1896
escrutina o interior das coisas, em particular o centro do olho, o que dá acesso ao mundo.
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Frantisek Kupka, Fantasia fisiológica
Larionov, o pintor russo, fica fascinado com as aguarelas de Turner, e em 1906 escreve o seguinte: “ fiquei definitivamente convencido que a pintura não tem necessidade de imitar as formas reais. A partir deste momento, cada dia, desde que acordo, ressoam na minha cabeça as palavras de uma pintura não figurativa”.
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Mikhail Larionov, Linhas de raios, 1912
Os pintores das gerações seguintes, devem a sua modernidade a estes homens da ciência. A primeira geração de artistas da Bauhaus, Vassily Kandinsky, Paul Klee, Johannes Itten, consideram Goethe como o grande emancipador da cor pura. Para Robert Delaunay, como o fora para Turner, o sol vai ser a essência da sua pintura. Sónia, a mulher, confirma nas suas memórias esta abordagem puramente óptica do marido “ Robert voulait regarder en face le soleil de midi, le disque absolu (...). Il se forçait à le fixer jusqu’à l’éblouissement. Il baissait les paupières et se concentrait sur les réactions rétiniennes. De retour à la maison, ce qu’il cherchait à jeter sur la toile, c’était ce qu’il avait vu à la fois les yeux fermés; tous les contrastes que sa rétine avait enregistrés”.
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Robert Delaunay, Formes Circulaires, Soleil nº2, 1912-13
Regressemos ao século XXI, a Uta Barth e ao seu trabalho que realiza em 2002, “white blind (bright red)”. Agora o trabalho restringe-se ao exterior, “ It’s just the tree outside of my window! It’s no longer even the window; it’s just the tree”.
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Uta Barth, da série white blind (bright red), 2002
Agora são os fenómenos da fadiga ocular que Barth explora e quer revelar. Utilizando séries repetitivas da mesma árvore, interrompe com painéis coloridos: amarelo, vermelho, branco....A partir das experiências feitas por psicólogos, que depois de submeterem sujeitos a longas exposições de um mesmo estímulo verificaram que após uma interrupção, o sujeito continua, mesmo já sem o estímulo a ver a mesma imagem, Barth traduz estas experiências, nestas imagens brancas, amarelas, que para além da cor reproduzem em negativo as imagens das àrvores. Em galerias, este trabalho é exposto como se um horizonte de imagens se tratasse.
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Exposição Uta Barth, white blind (bright red), 2002, ACME, Los Angeles
A origem da vida é um mistério, o futuro do homem, no extremo oposto, outro mistério, no meio intercalam-se os enigmas da vida que o homem incessantemente procura desvendar.
Nos anos 50 do século XX, Miller tentou decifrar a origem da vida, mas faltou-lhe decifrar o passo essencial, a ligação entre a matéria inerte e a matéria viva.
Mas no próprio momento em que se descobriam as unidades mais simples da matéria e da vida, a ciência progrediu, e o modelo analógico, deixou de servir, porque era incompreensível a natureza estudada de forma aditiva e linear. À psicologia clássica, que estudou a percepção pela análise das sensações elementares, sobrepôs-se a psicologia da Gestalt, ou psicologia da forma, que veio propor uma nova abordagem. Para os gestaltistas não havia fenómenos psíquicos nem tão pouco processos cerebrais independentes e transferiram o método científico no plano da psicologia. O desafio foi grande, pois bastava mudar um só elemento para modificar a estrutura global. Hoje só com a ajuda dos computadores o homem consegue abordar a complexidade organizada, e do modelo analógico, possível ao homem, passou para o modelo sistémico, só possível com a ajuda dos computadores. Os computadores são hoje os novos laboratórios onde se estuda a vida e os fenómenos naturais e onde é possível a simulação de experiências utilizando universos artificiais. A ciência evoluiu da química
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Abelardo Morell, Construção com vidro de laboratório, 2004
para a electrónica,
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Luisa Ferreira, Visualização de DNA num gel utilizando luz fluorescente, CEBIP, Faculdade de Medicina, UTL, 27 de Junho 2003
a fotografia, também ela, evoluiu da química, dos sais de prata, para a electrónica, os pixéis. Julgou o homem que a fotografia morrera, tão grande foi a sua evolução. A fotografia precisa de mudança para sobreviver, uma repetição escrupulosa e infalível seria o seu fim. A fotografia é hoje electrónica e não morreu, modificou-se, como a ciência e o próprio homem.
P
erante uma enorme folha em branco deitada no chão Jackson Pollock, com um pincel embebido em tinta preta cobre progressivamente, primeiro, com movimentos lentos, a superfície com diversos traços sinuosos e descontínuos. O pincel nunca toca na folha. Depois é a vez da tinta branca cair num ritmo mais acelerado nas linhas pretas da superficie da folha. O caos aparente dos quadros de Pollack, seguem a lei da boa forma ou da “pragnância” das formas enunciadas pelos gestaltistas, pois ao olhá-los agrada-nos o caos aparente, mas agora, são os universos artificiais criados no computador que nos explicam as leis da organização que regem a nossa percepção, e que nos levam a entender o prazer de olhar para o caos aparente.
P
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![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhRj88Uxh4KsbBI14VZyBasS4Petjez6pkhY4MuOF2CBTlA_76bPh9iX52NoTD-fNC5PinEJ-wDOY6MZi_jYQUirmk4lkHe8iGKgYnImffbdnarYI67oY12Dt6qg_T2w98OedgJ/s400/w+033.jpg)
Hans Namut, Jackson Pollock a trabalhar, 1950
Jackson Pollock, Autumn Rhythm, 1950
Da óptica geométrica da Renascença, passou-se para a óptica psicofisológica do século XIX. Hoje tentamos conhecer o mundo e o homem através de uma outra óptica, a dos universos artificiais.
2 comentários:
oi
Oi,como voçê faz bem a passagem dos séculos em termos de História de Arte,passando do Renascimento para Modernidade,rs.
Bem, acabei agora de aconselhar u seu site/blog a uma pessoa no Flickr,essa pessoa chama-se David Clifford,e,se for ao Google investigar um pouco do seu trabalho,aparece no Flickr,tem lá algumas boas fotografias a cores de Portugal e não só.
Entretanto,se não tiver nada que fazer chamo-lhe a atenção de que publico todos os dias algumas coisas um pouco mais experimentais neste place "ver as minhas fotos"
http://www.fotolog.com/final4 .
Não vai dar para deixar comentários,só se se fizer fotologger,u que é uma pena pois adoraria receber os seus coments,mas enfim, fica por aqui a dica .
Com os melhores comprimentos,até mais e uma boa segunda.
André M.
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