“Estou muito interessado em fotografar aquilo que não vejo, aquilo que está atrás de mim, atrás dos meus olhos, e, de certa medida, utilizo os meus modelos, utilizo até a própria natureza também para me encontrar a mim próprio”, confessa José Manuel Rodrigues, numa entrevista para a exposição “Elementos” que há dias inaugurou numa nova galeria de fotografia, a Pente 10, na Travessa da Fábrica dos Pentes, lá para os lados do belíssimo jardim das Amoreiras.
José Manuel Rodrigues, em exposição na galeria Pente10, Lisboa, Maio 2008
A Europa interessa-me, a Europa na actualidade interessa muitos fotógrafos, para Paulo Nozolino, a Europa foi o primeiro território que começou por explorar, “quero aprofundar a carga histórica associada à Europa. É isso que me pode ajudar a montar o “puzzle” que ando a construir há anos…”, hoje, mais uma vez, o saisdeprata-e-pixels vai continuar na Europa, mas numa Europa diferente, não numa Europa registada em viagem, mas a Europa de J. M. Rodrigues.
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José Manuel Rodrigues, Évora, 1997
Em 1971, J. M. Rodrigues visitou a mãe no Canadá, “passado mês e meio percebia que era irrevogavelmente um europeu” e regressou. Dividiria a sua vida entre o Alentejo, onde nasceu, e a Holanda, ambas terras de horizonte baixo, paisagem de maravilha de silenciosas planícies, onde a perfeita harmonia entre o Homem e a Natureza, nessa Natureza ainda não destruída, o conduzem a uma união de intimidade, a uma união de uma tal plenitude, na qual J.M. Rodrigues se banha e imerge, em toda a sua força e beleza.
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José Manuel Rodrigues, em exposição na galeria Pente10, Lisboa, Maio 2008
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José Manuel Rodrigues, em exposição na galeria Pente10, Lisboa, Maio 2008
“As profundezas do nosso espírito nos são desconhecidas. O caminho misterioso vai em direcção ao interior. É em nós e em nenhum outro lugar, que está a eternidade com seus mundos, o passado e o futuro”, Novalis.
As fotografias de J.M.Rodrigues, despertam em nós uma outra força de visão, um outro poder, muitas vezes ignorado na nossa vida quotidiana.
Da mesma forma que, durante a rotação diária da Terra sobre seu eixo, uma metade do planeta está às escuras e a outra metade iluminada, a mesma alternância, negativo-positivo,
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José Manuel Rodrigues, em exposição na galeria Pente10, Lisboa, Maio 2008
surge constantemente nas fotografias de J.M.Rodrigues, rostos de pálpebras fechadas, rostos de olhos abertos,
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José Manuel Rodrigues, Évora, 1981
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José Manuel Rodrigues, Évora, 1981
muralhas de pedra fechadas sobre si mesmas, duras e secretas, um céu aberto: “Tenho uma fotografia em que tentei voar, que eu gosto muito”.
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José Manuel Rodrigues, Amsterdam, 1982
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José Manuel Rodrigues, Amsterdam, 1984
Ao olhar para a sua obra, nós, espectadores, penetramos e ultrapassamos camadas e camadas duma outra água, água que “pela sua fluidez, pelo seu reflexo, é como a continuação da objectiva e é soft, tem esta coisa especial de reflectir e mudar continuamente”, até que chegamos ao fundo, ao interior, onde descobrimos outras regiões, outras dimensões, a abolição do Espaço e do Tempo. “A minha fotografia também é um espelho do caos da minha existência.”
São quatro os “Elementos”: terra, água, fogo e ar, quatro, o número mágico da ciência.
São quatro os “Elementos”: terra, água, fogo e ar, quatro, o número mágico da ciência.
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José Manuel Rodrigues, Quatro provas de halogenetos de prata, Amsterdam, 1986
2 comentários:
Madalena:
Obrigado, Madalena, pelas palavras que deixou no Ultraperiférico e por me avisar deste seu post. Tenho seguido a série sobre a Europa e, na verdade, a ponte com JMR é muito feliz. Gosto muito também das imagens mais antigas escolhidas por si para intercalar as fotografias da exposição. São imagens inesquecíveis.
imagens inesquecíveis???
devem estar a gozar?
mau, deveras muito mau!
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