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Rita Barros, Chávena de café, em exposição na galeria Pente 10
foi a escolhida para ilustrar o convite, que recebi por e-mail, para a inauguração de “Presença da Ausência” de Rita Barros, em exposição, até 10 de Janeiro, na galeria Pente 10.
Há dias recebi um outro e-mail a lembrar a dita exposição, mas desta vez ilustrado com uma cafeteira ao lume.
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Rita Barros, Máquina de café, em exposição na galeria Pente 10
Primeiro serviu-se o café e só depois se ouviu o gorgolejar tão típico da água a subir na cafeteira italiana.
“As cores saltam das imagens”, escreve Jorge Calado no catálogo, e “só depois nos apercebemos das formas, objectos e dos seus fragmentos”.
Ao olhar para a fotografia, “Chávena de café”, (exposta no corredor da galeria mas a olhar para a sala de exposição), o pires com as suas folhas verdes, um fragmento que quase se mistura com as flores garridas da toalha, saltou-me primeiro à vista. Depois, e ainda antes das cores das flores, veio a chávena e o adivinhar da sua forma. Será em forma de vaso ou terá a forma cilíndrica igual ao serviço de café que sempre vi ser usado em casa dos meus pais? A perspectiva escolhida, a mesma com que Stephen Shore – um dos pioneiros da cor nos anos 70 - fotografava as suas refeições nas mesas de fórmica dos restaurantes de comida rápida nas suas viagens pela América, não nos ajuda a deslindar a forma da chávena…aliás fico mesmo sem saber se a “Chávena de café” de Rita Barros é exactamente igual ao serviço que eu sempre conheci. Só depois, e muito depois, saltaram à vista as cores da tão florida toalha, que tal como as mesas de fórmica de Shore pode ser limpa com um simples pano húmido.
A cafeteira, pelo contrário, é fotografada de um ângulo que a revela tal qual é: resistente, sem disfarçar a idade que já tem, sempre pronta a servir e a resistir à belíssima chama azul do gás. A caçarola do leite, lá mais atrás, mesmo sem o azul a iluminá-la, não passa desapercebida em cima do velho fogão de esmalte branco, assim como os azulejos de bonecos da bancada do lava-loiças.
De objecto em objecto, do televisor à Lee Friedlander
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Rita Barros, TV, em exposição na galeria Pente 10
à geometria que se vislumbra da janela do seu apartamento nova-iorquino,
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Rita Barros, Cortina, em exposição na galeria Pente 10
(terá sido Stieglitz o primeiro a olhar e a registar as quadrículas geométricas dos edifícios, chaminés, janelas e da roupa a secar, nos telhados de Nova Iorque?), Rita Barros espevita-nos constantemente a memória.
No interior da sua casa,
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Rita Barros, Santo António, em exposição na galeria Pente 10
presos nesse segredo das memórias da infância, que sentimos como uma cumplicidade, numa conivência partilhada, em laços que nos ligam a uma mesma cultura, julgamos por momentos estar em Portugal, mas a cidade de desconhecida arquitectura que vemos pela janela, passamos por estrangeiros por uma só noite.
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Rita Barros, Prédio, em exposição na galeria Pente 10
Catarina Ferrer, a galerista, uma apaixonada pela fotografia, simpaticamente ofereceu-me, no final de ver a exposição, um café. Tirado em segundos por máquinas que perfuram cápsulas de cores garridas, que lembram as cores da exposição, em segundos varreram-se as memórias.
Madalena,
ResponderEliminarparabéns pelo seu trabalho.
Um feliz Ano Novo com muita paz, saúde e alegria.
Abraço
Agradeço e retribuo.
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