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Yann Mingard, Cazaquistão, 2005
Ontem a Aliança Atlântica –NATO, avisou Moscovo que as suas tropas estão próximas de Tbilissi e diz que o futuro das relações com a Rússia depende das acções concretas de Dmitri Medvedev honrar as promessas feitas. O Presidente russo, em resposta, afirmou ao seu homólogo francês, Nicolas Sarkozy, que irá cumprir o cessar-fogo entre a Geórgia e a Rússia, assinado Sábado passado, e que irá retirar, entre amanhã e depois, as suas tropas que ainda estão na Geórgia. Claramente os russos dominam as operações e sabem-no bem.
No dia em que inesperadamente o muro de Berlim ruiu, 9 de Novembro de 1989, o porta-voz do ministério dos negócios estrangeiros soviético, M. Guenadi Guerassimov afirmou: “todas estas mudanças vão na boa direcção. Evoluímos de uma Europa dividida do pós-guerra para uma casa comum europeia”. Mas como vimos no post anterior, foi esta abertura a uma política europeia, promovida por Mikhaïl Gorbatchev, que do apogeu o levou ao declínio. Boris Yeltsin, que lhe sucedeu, viu-se à frente de uma República Soviética Russa destituída de poder - a antiga e poderosa União Soviética desmoronara-se e em lugar dezenas de novos Estados proclamavam a sua independência. Se num primeiro momento a divisão militar se manteve entre a Aliança Atlântica, NATO, e o pacto de Varsóvia - não esqueçamos que em vésperas da formação do governo, Agosto de 1989, Lech Walesa afirmava na televisão que a sua Polónia se manteria fiel ao pacto de Varsóvia - meses depois, este mesmo pacto que constituía um dos principais atributos do poder internacional da URSS, e conferia a divisão de um equilíbrio militar mundial, também ele implodia juntamente com todo o sistema ideológico, político e militar da União. O pacto de Varsóvia via-se destituído de todo o seu significado, quer no plano político como militar, e a Rússia de Yeltsin, com as forças armadas num estado de profunda decadência, estava longe de ser uma ameaça para a Europa. Contudo Moscovo ambicionava implicar-se de forma mais directa nas tomadas de decisão intra-europeias, nomeadamente na NATO, OMC…mas a Europa, perante uma Rússia que via decadente virou-lhe as costas e mostrou-se bem ingrata não só com o iniciador da “perestroïka” como com Yeltsin, o seu sucessor, que tentava salvar o país da penúria e pedia desesperadamente ajuda ao Ocidente - um verdadeiro auxílio nunca chegou. Passados uns anos, e com o aumento exponencial do preço das matérias-primas, gás e petróleo, o feitiço virou-se contra o feiticeiro, e hoje é a Europa, presidida por Durão Barroso, que de joelhos implora e mendiga à Rússia o seu gás que tanto precisa, como assistimos na recente cimeira de Julho em Khanti-Mansiik, na Sibéria, nas negociações para um novo pacto estratégico.
Agora é Putin que não está interessado na União Europeia e utiliza o gás e o petróleo, que circulam nos seus oleodutos para mostrar o seu novo poder.
Regressemos à região do Cáucaso, ao Cazaquistão, outra República da antiga URSS, onde em Kashagan, no norte do mar Cáspio se descobriu, em 2000, uma das maiores jazidas petrolíferas do mundo.
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Yann Mingard, Mar Cáspio, Cazaquistão, 2005
Debaixo do espesso gelo do mar, a exploração do enorme campo petrolífero já começou.
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Yann Mingard, Mar Cáspio, Cazaquistão, 2005
Os desafios técnicos para extrair o ouro negro a mais de 4500 metros de profundidade, nesse mar de gelo, estão a tornar o projecto no mais caro da história do petróleo.
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Yann Mingard, Cazaquistão, 2005
O investimento avultado obrigou a Kazmunaygas, a companhia estatal do Cazaquistão, a aliar-se, num consórcio internacional, à Shell, Exxon Mobil, Eni e Inpex. A cidade de Atyrau, a 75 Km do campo de Kashagan, transforma-se de dia para dia,
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Yann Mingard,Atyrau,Cazaquistão, 2005
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Yann Mingard,Atyrau,Cazaquistão, 2005
e de uma terra sem ninguém é hoje a capital do petróleo do Cazaquistão.
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Yann Mingard,Atyrau,Cazaquistão, 2005
Em construção já estão os oleodutos que ligaram Kashagan ao BTC – Bakou – Tbilissi – Ceyhan, o oleoduto alternativo à Rússia e ao Irão.
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Yann Mingard,Cazaquistão, 2005
A espera já não é longa, estima-se que em 2010, nesses oleodutos circulem o correspondente a 1,2-1,5 milhões de barris de petróleo por dia.
Tbilissi, na rota do BTC, interessa a todos: à Rússia que quer manter a sua soberania e à União Europeia que se quer ver livre do actual e único vendedor de gás.
O conflito na Geórgia, que já causou milhares de mortes e desalojados está longe de estar resolvido, porque novamente o petróleo irá comandar as operações no terreno.
A Europa, que se julga uma nova potência, continua sem estratégia, sem saber o que quer
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Yann Mingard,Cazaquistão, 2005
e quando o muro ruiu, começou o seu drama – onde termina a Europa? onde começa a Ásia?
Agora é a Turquia que mendiga à Europa a sua integração. Os burocratas de Bruxelas prolongam-se em hesitações, e para ganharem tempo pedem ao país alterações à constituição de forma a aproximar a Turquia dos valores culturais europeus. A Turquia fez o trabalho de casa, e em 2003 o parlamento turco aprovou as alterações pedidas. Contudo a Europa continua indecisa, se a Turquia entra para a União Europeia, a Geórgia, a Arménia, o Irão, o Iraque e a Síria serão os novos vizinhos, e a Europa, a que se julga uma nova potência, teme pela sua segurança. Entretanto os turcos, uma nação outrora imperial, sente-se humilhada, e não tarda que à semelhança da Rússia a Europa veja as consequências das suas hesitações…
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