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Richard Misrach, Bonnet Carré Spillway, Norco, Louisiana, 1998
Desde Janeiro deste ano, quando o preço do crude atingiu nos mercados de futuros os 100 dólares por barril, a escalda não mais parou, e o mundo entretêm-se em apontar culpados. Muitos acusam os produtores de acumularem chorudos lucros, os produtores acusam os especuladores, os especuladores culpam os países emergentes que fizeram elevar a procura, e bancos como a Goldman Sachs e o Morgan Stanley prevêem que o preço ultrapassará os 200 dólares por cada barril. Nada que se compare aos 600 dólares que Chakib Khelil, presidente do cartel da OPEP, prevê, se o Irão situado numa das chamadas “Danger Zones”, bloquear a artéria de navegação de um quinto do petróleo bruto mundial, o Estreito de Ormuz, no Golfo Pérsico, se sentir ameaçado ou provocado, para cancelar o seu programa de enriquecimento de urânio. O especulador financeiro, George Soros, também já veio sentenciar sobre o assunto, segundo ele, com os preços actuais a economia americana não se livra de uma recessão e ultimamente a subida do preço tem sido atribuída à desvalorização do dólar, pois o petróleo, dizem, tem servido de cobertura ao dólar barato.
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Richard Misrach, Hazardous Waste Containment Site, Plaquemine, Lousiana, 1998
Hoje as reservas petrolíferas da América no Mar do Norte e Golfo do México estão fortemente delapidadas devido a um século de extracção, e no Golfo as petrolíferas baixaram a produção em 34% em relação ao ano passado. Com escassas reservas o equilíbrio do petróleo mundial tornou-se demasiado precário. Mas apesar das reservas destes poços estarem a atingir o limite, no subsolo do mundo, as reservas de petróleo estão longe de estar esgotadas. Porque será que as companhias petrolíferas não reinvestiram o suficiente em perfurações para extraírem das cavernas profundas mais do precioso ouro negro? A incerteza dos futuros padrões ambientais, uma vez que uma nova refinaria representa um compromisso financeiro a 30 anos, afasta os investidores e nem mesmo os Árabes estão para incorrer em tais riscos.
E o preço elevado da gasolina e gasóleo que pagamos nas gasolineiras reflecte o actual equilíbrio precário entre a oferta e a procura. Uma falha na produção ou distribuição, muitos dos oleodutos estão à superfície e por isso são alvos fáceis de ataques terroristas, podem, segundo alguns analistas, causar uma verdadeira catástrofe económica porque já não há reservas suficientes que possam fazer face a tais calamidades.
Agora o homem vê-se perante a urgência de procurar e desenvolver energias alternativas não poluentes, que substituam o petróleo poluente, mas para muitos, qualquer solução já vem tarde.
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Richard Misrach, Home, Destrehan, Lousiana, 1998
Com as consideráveis mudanças tecnológicas dos últimos anos, não deixa de ser um mistério, porque chegou o homem a este equilíbrio tão precário. Misteriosa é também as conclusões que lemos no documento da cimeira do G8 : "As capacidades de produção e de refinação deverão ser aumentadas no curto prazo". Como é que tal é possível no curto prazo?
“Baton Rouge was clothed in flowers, like a bride – no, much more so; like a greenhouse. For we were in the absolute South now. From Baton Rouge to New Orleans the great sugar-plantations border both sides of the river all the way, and strech their league-wide levels back to the dim forest of bearded cypress in the rear. The broad river lying between the two rows becomes a sort of spacious street”, escreveu Mark Twain no seu clássico “Life on the Mississippi”, 1883.
Hoje o Mississipi, chamado “Cancer Alley”, pela percentagem elevada de doenças cancerígenas que aparecem na região, está longe da descrição de Twain.
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Ricahrd Misrach, Roadside Vegetation and Orion Refining Corporation, Good Hope, Louisiana, 1998
Ao longo do rio, a outrora luxuriante vegetação desaparece engolida pelo cimento das refinarias e poluição, que matou milhares de árvores centenárias.
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Ricahrd Misrach, Ashland Belle Helene Plantation, Acquired By SHELL Chemical, Geismar, Louisiana, 1998
As casas dos antigos ricos plantadores de açúcar, estão fechadas e pertencem a grupos petrolíferos, que em meados da década de 50 invadiram a região.
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Richard Misrach, Holy Rosary Cemetery and Union Carbide Complex, Taft, Louisiana, 1998
Em Taft, uma petrolífera comprou a propriedade da Holy Rosary Church, construída em 1866. Uma nova igreja foi edificada perto de Hahnville, mas o cemitério foi deixado para trás.
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Richard Misrach, Playground and SHELL Refiniry, Norco, Louisiana, 1998
Ao lado das refinarias construíram-se casas e escolas onde os odores e o barulho industrial são terríveis.
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Richard Misrach, Swamp and Pipeline, Geismar, Louisiana, 1998
Não muito longe do Golfo do México, 12 000 Km de oleodutos atravessam terrenos hoje completamente intoxicados por lixos.
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Richard Misrach, Revetment Sign and Hale. Boggs Bridge, West Bank, Mississippi, River, Luling, Louisiana, 1998
Em 1998, quando Richard Misrach fotografou a região, mais de 75 substâncias tóxicas foram encontradas na água do rio que alimenta um milhão e meio de habitantes só no Louisiana.
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Richard Misrach, Norco Cumulus Cloud, SHELL Oil Refinery, Norco, Louisiana, 1998
Na cidade de Norco, acrónimo de New Orleans Refining Company, o nome original da primeira refinaria, mais tarde comprada pela Shell, as nuvens, chamadas “Norco cumulus”, ficam suspensas no ar, carregadas de hidrocarbonetos voláteis, originadas pelo processo de refinação do gasóleo e gasolinas. Depois do Texas, o Louisiana é o Estado com mais substâncias tóxicas no ar.
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Richard Misrach, Abandoned Trailer Home, West Bank Mississippi River, Plaquemine, Louisiana, 1998
O homem transformou a paisagem numa enorme lixeira onde terá agora de sobreviver, e os grandes do G8, que discutem o tipo de desenvolvimento que pretendem para o nosso planeta não avançam com soluções.
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Mas o maior mistério, que fica por explicar, é o que fizemos à Mãe Natureza que ficou à nossa guarda.
é ironico como se ouve falar em "terraforming" (fabricação de um ambiente humanamente sustentável) quando se fala por explo de marte, quando o que fazemos "cá" é exactamente o oposto - já lhe chamam "reverse terraforming".
ResponderEliminararrepiante, a "Norco Cumulus Cloud".