Ao longo destes cinco posts sobre Maio de 68, também não respondi à questão: “O que queriam os estudantes em 68?”, pois confesso que também não sei responder.
A 30 de Maio, no pátio da Sorbonne,

decorada com os símbolos políticos da contra-cultura, Mao, Guevara, Trotsky, Marx, Lenine…




os estudantes, com os seus transístores,

aguardavam o discurso de De Gaulle na televisão: “Encarei nas últimas 24 horas todas as eventualidades – sem excepção – e tomei as seguintes resoluções: nas circunstâncias presentes, não serei candidato à minha própria sucessão e dissolvo hoje a Assembleia Nacional”.

“Le salaud!” o grito de indignação.

Mas nesse mesmo dia um milhão de gaullistas manifestava-se nos Campos Elísios e nas eleições legislativas que se seguiram uma esmagadora vitória dava-lhes a maioria no Parlamento. Os estudantes, depois dos exames, partiram para férias.

Ao contrário dos estudantes, o mundo laboral, o mundo dos operários das fábricas, que simultaneamente entraram em greve e paralisaram o país, sabiam o que queriam e pressionaram o governo a ceder.



Que reclamavam eles? Havia certamente um descontentamento com a baixa dos salários reais, mas a verdadeira fonte de queixas eram as condições de trabalho e em particular as relações entre empregados e patrões. A classe operária, a geração mais velha que condenava os estudantes que queimavam os carros, que eles, nas cadeias de montagem construíam nas fábricas, acabava por vencer na luta contra o patronato.


Paradoxalmente ganhavam os que estavam a desaparecer, pois não era esta mesma classe operária que estava a reformar-se em grande número e a ser substituída por um tipo muito diferente de população trabalhadora, a indústria de serviços?
A frustração da população francesa era genuína, não só nas fábricas da Renault e Citroën, como em todo o lado. Na rua todos discutem, e a 15 de Maio, os franceses de todas as idades e classes, ocupam o teatro de L’Odéon.


Todos querem falar, todos querem o microfone, discute-se dia e noite.

Uns reclamam por justiça social, outros por aumento de férias pagas, outros pela abolição da gravata para entrar no teatro…
Mas olhando para as imagens desta época, impressionante é o que esta geração fumava.

Na cantina da Sorbonne, comiam e discutiam política envoltos em fumo onde os pratos serviam de cinzeiros.
Mas como se justifica tanta frustração num país que vivia anos de prosperidade e segurança?
A V República francesa, 1958, a de De Gaulle, foi concebida para evitar os defeitos da IV República instável do pós-guerra. De Gaulle concentrou o poder na presidência, que assumiu o controlo total, na concepção das políticas e na preponderância absoluta sobre os ministros. Charles de Gaulle, o Presidente francês, tinha mais poder do que qualquer outro chefe de Estado ou de Governo livremente eleito.
Foi este poder concentrado e dirigido por uma minúscula elite, socialmente exclusiva, altivamente hierárquica e inabordável, que despoletou a revolta no centro de Paris. Alain Peurefitte, o ministro da Educação, numa atitude desastrosa de autoritarismo, mas talvez a única que conhecia, manda encerrar a Sorbonne, e os polícias tem ordem para intervir e prender. Julgou o ministro e o reitor, Jean Roche, que os enragés, eram um grupo restrito fácil de controlar, os exames estavam à porta e certamente os outros estudantes não os iriam seguir. O autoritarismo do Governo acabou por dar a Daniel Cohn-Bendit o que ele queria, a revolta de todos os estudantes e de todos os franceses que se indignaram com a repressão da polícia sobre os estudantes. E o Quartier latin virou o teatro da revolta.



Do filme realizado em Maio de 68 por William Klein, "Grands Soirs et Petits Matins"
Os estilos tradicionais de autoridade, disciplina e modo de falar, não tinham conseguido acompanhar as rápidas transformações sociais e culturais desses anos, e a revolta desse Maio de 68 veio dessa sensação de exclusão da tomada de decisões e de poder.Hoje ainda persistem demasiados hábitos profundamente impregnados de deferência em relação às autoridades e às instituições, mas o acto de participar, como os franceses viveram nesse mês de Maio, está a regressar, não são a proliferação de blogues, um blogue é criado de sete em sete segundos, um sinal de participação activa, um sinal de mudança?
o espírito do mai'68 continua vivo e promovendo encontros. como o meu, com este blog que me deliciou e me encheu de tesão revolucionário.
ResponderEliminarum beijo,
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