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Samuel Fusso, Le Maître nageur, série Tati, 1997
Em paralelo, a 52ª Bienal de Veneza premiava Malick Sidibé, do Mali, com o prémio Lion d’or, o primeiro artista africano a receber esta recompensa, e a fotografia “Combat dês amis avec pierres”, 1976, a escolhida para ilustrar as revistas de arte contemporânea.
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O comissário americano, Robert Storr, abria pela primeira vez as portas da Bienal de Veneza ao continente africano. Considerando-se um autêntico “soixante-huitard”, Storr confrontou as várias gerações de artistas.
Malick Sidibé, considerado no seu país, Mali, um estereótipo do passado, era premiado em Veneza. Ironias…
E o mundo mudou com a geração “soixante-huitard”.
Passemos agora para a Europa, a Europa dos anos sessenta, onde uma geração crescia em segurança, e sonhava viajar para países exóticos. Ouviam música nos seus transístores portáteis e compravam os discos favoritos que ouviam nos programas de rádio. Os programas de rádio, emitidos nos grandes aparelhos que ocupavam um lugar de destaque nas salas de estar, deixou-se de ouvir em família, e a nova geração podia ouvir agora os programas que queria nas suas rádios portáteis. Se a “Swinging London” ditava as modas, os americanos não se deixaram ficar atrás: Em Maio de 63, no Marche aux Puces, vendia-se pela primeira vez as Levi’s genuínas, e a procura ultrapassou de longe a oferta. Jeans e mini saias, vestia agora a nova geração.
Os Europeus assistiam a um crescimento económico, medido por novos indicadores, o PIB, Produto Interno Bruto, e tinham agora acesso a uma gama de produtos que os consumidores americanos já estavam familiarizados: telefones, electrodomésticos, televisão, máquinas fotográficas, vestuário, transístores, gira-discos, carros…e o boom do consumismo passou a ser um modo de vida. Os adolescentes, “teenager” como lhes chamaram na América, existiam agora como um grupo distinto, que nunca tinha existido. Na geração anterior, era-se criança até sair da escola, e tornavam-se adultos quando começavam a trabalhar. Com a escolaridade prolongada e com dinheiro para gastar, as agências de publicidade não perderam a oportunidade para os aliciar. Apareceram revistas destinadas aos adolescentes e a publicidade cresceu na ordem dos 400% nesses anos sessenta. A economia, que até aí era baseada na agricultura, passava para uma economia de serviços, e a mulher entrava no mundo do trabalho, a dona de casa passava à história e o fosso entre as gerações acentuou-se. As cidades enchiam-se de jovens que abandonavam as terras para aí trabalhar e estudar, e as universidades ficaram a abarrotar.
Regressemos novamente a África, aos anos sessenta, que a nova geração de Bamako agora prefere esquecer e que julga que a globalização chegou com os telemóveis Nokia.
Em 1960, o Mali que fazia parte do Sudão Francês obtinha a independência. Malick Sidibé, nos finais da década de 50 começa a trabalhar em Bamako como assistente do fotógrafo francês Gérard Guillat, de alcunha “gégé la pellicule”. Será gégé influência de yé-yé?. Em 62 abre o seu estúdio, e dedica-se a fotografar as festas de uma geração que dança o twist ao som da música dos gira-discos portáteis,
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Malick Sidibé, Twist, 1965
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Malick Sidibé, 1962
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Malick Sidibé, Chez Mlle Colette, 1964
que faz de disco jokey,
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Malick Sidibé, do livro Chemises, 2007
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Malick Sidibé, do livro Chemises, 2007
usa mini saia e jeans,
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Malick Sidibé, do livro Chemises, 2007
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Malick Sidibé, yeye, 1963
anda de mota,
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Malick Sidibé, do livro Chemises, 2007
e se diverte como os ocidentais.
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Malick Sidibé, do livro Chemises, 2007
No dia seguinte, iam ao estúdio e escolhiam as fotografias que Sidibé numerava e colava em cartões e afixava nas paredes.
Em 2006, Jérôme Sother da Steidl, encontrou empilhados a um canto no estúdio de Sidibé, em Bamako, centenas destes cartões.
Em 2006, Jérôme Sother da Steidl, encontrou empilhados a um canto no estúdio de Sidibé, em Bamako, centenas destes cartões.
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Malick Sidibé, do livro Chemises, 2007
“Chemises”, o livro editado no ano passado, selecciona os melhores. Para Sother estas fotografias constituem um documento único da sociedade de Bamako desses anos.
A geração de 60 transbordou da Europa e chegou a todo o mundo, e o mundo mudou com a geração “soixante-huitard”.
Charles de Gaulle, que um dia disse ser o guia dos franceses, julgou a nação satisfeita, os adolescentes dançavam, o desemprego baixava, a economia crescia, mas o que De Gaulle não viu, foi que esta geração farta de ser guiada estava prestes a revoltar-se,
A geração de 60 transbordou da Europa e chegou a todo o mundo, e o mundo mudou com a geração “soixante-huitard”.
Charles de Gaulle, que um dia disse ser o guia dos franceses, julgou a nação satisfeita, os adolescentes dançavam, o desemprego baixava, a economia crescia, mas o que De Gaulle não viu, foi que esta geração farta de ser guiada estava prestes a revoltar-se,
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Christer Strömholm
e no próximo post, que já é Maio, vamos então para a rua.
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