A CNN encontrava-se diante do World Trade Center para iniciar umas filmagens, acabaram a filmar o acontecimento na íntegra. O mercado não abriu, e fiquei estupefacta a olhar para as filmagens que passavam na televisão. O centro de Nova Iorque, o coração da América, acabava de ser alvo de um terrível ataque terrorista, o primeiro em casa, na sua história.
Durante várias semanas, o mundo inteiro viu as filmagens do ataque às torres gémeas de vídeos amadores, e Manhattan tornou-se no lugar mais retratado.
Joel Meyerowitz, fotógrafo nova iorquino pertencente à geração de 60, vive e trabalha em Nova Iorque. Da janela do seu loft, na 19 avenida via as torres gémeas. Fotografou-as vezes sem conta, a última a 5 de Setembro, antes de partir para a sua casa de férias em Cape Cod.

Preparava aí, no seu estúdio uma exposição sobre Manhattan. Quis Manhattan que nesse dia fatídico Meyerowitz estivesse em Cape Code. Meyerowitz fotografou o antes e o depois,

esteve ausente para fotografar o durante.
Quando pôde regressar à sua casa na cidade o mundo mudara, como ele mudara há quarenta anos da fotografia espontânea a preto e branco para a fotografia estática a cores. Meyerowitz mudara como mudara o fotojornalismo. Durante décadas o “momento decisivo” ligou a fotografia à memória colectiva. A guerra do Vietname foi a última a ser fotografada, e hoje a memória dessa guerra reconstrói-se com meia dúzia de fotografias. A televisão invadira o espaço do fotojornalismo com o seu tempo real e acabava com o “momento decisivo”. Hoje são os vídeos amadores que invadem o espaço televisivo, ao registarem, em directo, todos os momentos num contínuo. As fotografias que vemos nos jornais são na sua maioria fotogramas de filmes em vídeo. Aos fotógrafos resta o depois, perderam a relação imediata com os acontecimentos, e deambulam pelos lugares onde aconteceram os momentos decisivos. Críticos, como David Campany, chamam a este registo fotográfico do depois, “fotografia tardia”. Mas a fotografia continua a reclamar para si a memória colectiva, monopólio que já lhe pertenceu. O livro "Aftermath (World Trade Center Archive)" de Meyerowitz é um exemplo.


Consegue convencer o director do Museum of the City of New York, e obtém acesso exclusivo. No dia 23 de Setembro com a sua Deardoff, uma câmara de grande formato com mais de sessenta anos de idade, pesando mais de vinte quilos, Meyerowitz, vai sózinho para o meio dos escombros e gruas, onde ainda se sente todo o inferno da tragédia, só sairá passados nove meses, em Junho de 2002.
Campany, num comentário ao programa televisivo do trabalho de Meyerowitz refere, “ (Meyerowitz) parecia insinuar que a fotografia, e não a televisão, era o meio mais indicado para fazer a história oficial”.
Jorge Calado, num artigo dedicado ao livro “Aftermath” que a Phaidon acabara de editar (2006), refere, “Sinto (ainda) demasiado o acontecimento para poder apreciar a obra do ponto de vista fotográfico”.
Olhemos para algumas dessas imagens, para o testemunho que Meyerowitz nos quis deixar, um registo épico de retratos e detalhes dos trabalhos de escavação, onde em todas elas domina uma luz que as torna atractivas:













Naquela noite 11 milhões de dólares foram recuperados dos cofres dum banco.

Aqui numa entrevista em 2008, Meyerowitz volta ao ground zero.
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