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Ralph Steiner, Saratoga Springs,c.1929
“Acho que os modelos T circulariam para sempre se os deixássemos. Já tinha saído da adolescência quando encontrei um desses carros a um preço que podia pagar – cinquenta dólares. Era quase tão velho como eu, era muito mais rodado que eu e, provavelmente, mais inteligente. Os pedais da embraiagem e de travão apresentavam-se polidos como prata, e as placas de carvalho que cobriam o chão da viatura tinham profundos sulcos abertos pelos saltos dos sapatos de donos anteriores, que deveriam ter sido uma legião”. Neste artigo, publicado num jornal, o sentido de humor, com que John Steinbeck, nos retrata o estilo de vida americano misturado com fragmentos da sua vida, contrastam, com o carácter documental e informativo do romance que o celebrizou - “As vinhas da ira”, 1939.
Um ano depois, em 1940, Marion Post Wolcoot, encontra, numa estação de serviço do Louisiana, este Ford,
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Marion Post Wolcoot, Service Station, Used cars for sale, Alexandria, Louisiana, 1940
que, se acreditarmos no que está escrito no vidro - “Excellent Motor”- ainda promete circular por muitos anos. Trinta anos depois, num bairro residencial de Jackson, no Mississippi, se olharmos através do vidro traseiro do carro onde segue William Egglestone,
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William Eggleston, Jackson, Mississippi, do livro William Eggleston's Guide
vemos um modelo T em frente a uma das vivendas do bairro.
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Detalhe
Será que ainda circula?
“Acho que gostei mais daquele carro do que qualquer outro que tive. Ele compreendia-me. Possuía uma inteligência não exactamente maliciosa, mas adorava uma boa piada. Por exemplo, sabia exactamente quanto tempo podia manter-me a dar à manivela e a amaldiçoá-lo antes de começar aos pontapés ao radiador. Andava sem qualquer problema quando eu vestia calças de ganga azuis, mas bastava eu vestir o meu melhor fato e uma camisa branca, e talvez sentar uma miúda ao meu lado, e o carro avariava-se invariavelmente, e sempre com a pior avaria possível. Nunca lhe dei um nome. Chamava-lhe ISSO. (…) Uma rapariga que entrasse pela primeira vez num Modelo T nunca sabia se o resultado da viagem seria uma sessão de mecânica ou de amor”.
Piada não deve ter achado o obsessivo Alfred Stieglitz, ao ver, a sua musa e amante, Georgia O’Keeffe, apaixonada pelo seu novo Ford V-8 descapotável.
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Alfred Stieglitz, Georgia O'Keeffe, Portrait, 1933
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Alfred Stieglitz, Georgia O'Keeffe, Portrait, 1933
“My hands had always been admired since I was a little girl”, recorda O’Keeffe. Será a beleza das mãos ou será o ciúme das carícias que fazem Stieglitz tirar estas fotografias? Para Steinbeck, “o Modelo T não era um carro como os que conhecemos agora, era uma pessoa…”.
Quinta-feira passada, a Ford Motor Company, revelou os prejuízos do ano de 2008, o pior da sua história - 14,6 biliões de dólares. Encurralada, à beira da falência, a indústria automóvel, está prestes a desaparecer de cena, como estes tejadilhos de carros que Harry Callahan fotografou em Chicago.
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Harry Callahan, Chicago, 1948
Mas a Ford, que outrora fabricava modelos, que mais pareciam pessoas, está determinada em não pedir ajuda federal, ao contrário dos seus concorrentes. Alan R. Mulally, o presidente, está confiante no futuro, porque provavelmente acredita, que os seus modelos, circularão para sempre, se os deixarem.
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