![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh9CpnjW88y3IIalu3AxrxoB5EuizitzZi2VxH1U2bx7B3iOQJuHTd6JJz1uduI41d2bv9d-L_2mZZEXi1_DueCpkpFX2A7C5H2XU_AbtKuEVkh_NSQO_CUi8GEPIvbLUnV7lWtUg/s280/F+003.jpg)
Manuel Alvarez Bravo, Señal, Teotihuacán, 1956
No dia 2 de Novembro de 1926, o fotógrafo Edward Weston , nas vésperas de deixar definitivamente o México escreve o seguinte no seu diário: “ November 2, …The puestos are open for “El Dia de los Muertos”. For the last time we walked the alameda. Kewpile dolls, tin toys, Japanese screens, horrible abortions from Tlaquepaque, - such rubbish was offered and sold from two thirds of the puestos. Yet it was colourful despite the corruption of taste...the indifferent familiarity of the Mexican to death – the macabre viewpoint is indicated in the puestos on this day of dead. “Death for sale” is the vendor’s cry – Death from every realistic and fantastic angle is sought and sold. Great candy skulls, tin trolley car hearses, tombstones, puppet skeletons who fiddle and dance, gruesome death masks – while a jolly crowd banters and buys”.
Se as nuvens e as pulquerias mexicanas inspiraram o californiano Weston, o folclore do “El Dia de los Muertos”, são, como revela nesta sua crítica mordaz, incompreensíveis.
No México, o culto dos mortos e todas as festividades que lhes estão associadas resultam de paralelismos e convergências de várias tradições culturais. Das primitivas culturas de Tlatilco, Cuicuilco e Tiapacoya, que se desenvolveram cerca de 1800 a.C., donde provêm os mais antigos testemunhos de rituais funerários,
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjCDFU0iVWJ2Vc87t4ClOJ6LvmJDvq_w8awW4faMBU2FxNrXGkk430H0zSCtXUVWCmF-ttiec00ano2jsuwguGPocs7XIR30Z-lSTkjlP1yoHALxRGG9MH-rxpppxxw9iXIQOEMRA/s280/F+002.jpg)
Manuel Alvarez Bravo, Coatlicue, 1987
ao cristianismo trazido pelos colonizadores espanhóis, resultou uma sobreposição de conceitos e práticas destas várias culturas em relação à dualidade vida – morte.
Os mistérios desta dualidade, incompreensíveis para os estrangeiros, são o que sustenta a particular forma de ver, sentir e viver a morte dos mexicanos.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEijNReZJO9VmmslYXVuJMUhtY9nvLLFm68NCE5Kw_Sc-10hKwjgJ667YGT8QPN7FYOTbdSaAyANOKik8tfnDTRbSryPqCAk10r_iup1J7B4v8m3hbF0yQ_YGchRrt0kJY1mGKUl2A/s280/F+001.jpg)
Manuel Alvarez Bravo, Caballito de Quito, 1984
Para o mexicano Manuel Alvarez Bravo, a morte, companheira inseparável da vida, serve como ponto de partida para a sua existência, e não se coíbe de fotografar as caveiras que embelezam os altares nestes dias, mas que Weston vê tão macabras.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjcylWV0uSc6jJrqDwjZMl55wrP-kpfum8cDq9Zx5aGrwFRrPfJ1mDbrfYZeQYEFoO4bld-tshLpywSjG85rq6lHqM318r78ZrL_quNNDs2RaZVXDxLwsl6yWSKlIAuLDImljorQg/s280/F+005.jpg)
Manuel Alvarez Bravo, La fábrica de calaveras, 1933
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhR8B5C3DERRAb5xNtzaxgPgcTIVG0hjKZrVHlP7fi5Q3LAF2A97gt2a4zCOxDOQG-4S2yXBqLxtuNg_PyA-Nl3UTLxXa09GDsEu3Y6YfZ-SqFCSzBaXkHQRJ690VtUrPhAcHHCwg/s280/F+004.jpg)
Manuel Alvarez Bravo, Día de todos muertos, 1933
“Quando uma pessoa está sempre atenta à realidade encontra nela tudo o que é fantástico” diz Alvarez Bravo, e em Parábola óptica, a sua fotografia mais conhecida, os reflexos dos olhos na montra continuam a causar uma intrigante surpresa, como causou ao seu autor quando a imprimiu pela primeira vez em 1931.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiFwdPgUgT24nxMNdrKToN5l4dqlt819iS62tSHQkQhU1snq1jIGBFXHZvOFmiDVzhsAZVnB8yRWSilO8q0fOrWHsDB4g_roH0n63bhqz6rp-94ZX2fDo3OLeDCdvucnRLR-pOqCQ/s280/Hoover+Dam+047+%5B800x600%5D.jpg)
Manuel Alvarez Bravo, Parábola óptica, 1931
No mundo real, na vitrina de um oculista, que curiosamente tem o nome de SPIRITO, Alvarez Bravo encontrou o fantástico - uma imagem com um poder que o fez imprimir também em reverso tal como os mistérios da dualidade vida - morte.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhVYWMyL-M5NeBcktqqR1xhovDzva_9Bmgph_-gUEQNp6FEUeENm929di95jjRCa1zA-uXkvOY_xfKgXbIW4Eq25R8By5cKPMPWa_SO0C90iI6BjYgr3irGo5qV_Dy_lq0cilmhqg/s280/F.jpg)
Manuel Alvarez Bravo, Parábola óptica, 1931
Analogias semelhantes desta dualidade encontramos em Bergman e Freud, em que olhos, sob forma onirica, nos espiam o interior, e são o prenúncio da morte em vida.
Em “Morangos Silvestres”, 1957, os olhos, por debaixo do relógio sem ponteiros,
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhDrXoy9izVdVaalJj5JZnoy1FhiQtB4m-8lXWHQqNUGZ3UevCocp7BqBoLbSJ9ujsXpTmSAdklNyQG-Zub2XRtWvn0_TeXaABzp1bq4EaewiYbPxTlwwI3fyd2cyQ3XKcghU_k7Q/s280/cap046+%5B800x600%5D.jpg)
Fotograma do filme "Morangos Silvestres" de Ingmar Bergman, 1957
que Victor Sjöström vê em sonho, são o prenúncio da sua morte que está próxima.
Em “Interpretação dos sonhos”, 1905, Freud relata um sonho que teve no dia seguinte ao enterro do seu pai : no espelho do barbeiro onde ia regularmente viu reflectido em caracteres tipográficos bem visíveis: “É favor fechar os olhos”, enunciado este que trazia outra possibilidade: “É favor fechar um só olho, ou então abrir os dois”.
Nestes primeiros dias de Novembro, os mexicanos, numa dimensão de atemporalidade, contrariando as teorias do macabro, do horripilante, celebram a morte na tentativa de anular o tempo, crendo na continuidade da vida para além da morte.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgWdbymjXgyAQ1OPKFBv338Ctbt6cm2V1acMpgTdtwQdTX9niyMFE3tX1nWwHyEoLlTPQALw899lP5SU1H_ziM2yrd94PU_Td4BqyaZXdefZwnNYgBzwwHDKnjcZIdLaqKf39r7Zg/s280/F+006.jpg)
Manuel Alvarez Bravo, A la mañana siguiente, 1945
A vida e a morte sempre juntas…
Sem comentários:
Enviar um comentário