Os banqueiros vestidos de preto, de ar circunspecto que Robert Frank fotografou na “city” dos anos 50 já não existem, a seriedade não se coaduna com as cores berrantes das gravatas e suspensórios que até os estagiários de Wall Street não deixam de usar.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgmg9dUJbEhRO0rfBz1tuZ1cLDyjJZxw5azyVOwKWV3hSni3KMz59VzVabDO6DjyThbfgMzkgNtCH_GuFIVrjTX3J1tX-Cop4XuK6oW1yhndKN1kgoaN4qnTmnerWNvH9OHJsiTUg/s400/F+008.jpg)
Joel Sternfeld, Summer Interns, Wall Street, New York, 1987
Da moda das cornucópias, à moda dos bonecos, à actual moda das cores lisas que vai do rosa ao laranja, conforme o gosto de cada um, as gravatas dos que habitam o mundo das finanças, sobressaem nos fatos cinzentos de discretas riscas brancas.
Walker Evans, o fotógrafo americano que hoje injustamente só é lembrado como o fotógrafo da Farm Security Administration, (F.S.A.), do registo da pobreza na época da bancarrota, seca, fome e migrações,
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj_1x00hrxDSpabvMgvaF80duQAuqxGYLOwLAJKOFooTil-BfRPHes6CZcO1L6_Y42Fy6XBMQQFDphCNRxccbl3Nq8nspmEi3NROww57ZfrrIQFIJDLKLu78N7_ravYqrkqNXeJFg/s400/F+019+%5B1024x768%5D.jpg)
Walker Evans, Farmer's Kitchen, Hale County, Alabama, 1936
a tal ideia “do tremido a preto e branco”, comentou anos mais tarde, o seguinte em relação ao “crash” de 1929: “That awful society well deserved it. I used to jump for joy when I read of some of those stock brokers jumping out of windows”. Evans deveria ser lembrado como o fotógrafo que olhou em redor e registou, as banalidades e falsidades próprias do materialismo da época. "Stamped Tin Relic", que fotografou meses antes da fatídica sexta-feira negra, é um dos melhores exemplos.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiqVchbZGXVBX__H6JMkAKJlXyncQhF6FiEHU-GpcMDCydKD5GtaGJShqXHtEcz3d-kQTQgyv0rqeXyQRDirTuMflf728Ed0lyluvgIkMcvas4iZcpXCfbdB9fIIUrnsAKqywDngw/s400/F+011.jpg)
Walker Evans, Stampet Tin Relic, 1929
Esta coluna jónica, esculpida não em pedra mas fabricada numa qualquer folha de metal barato, não é para durar. Fabricada e comprada por alguém, que nunca foi à Grécia, foi utilizada até ser descartada e deitada ao lixo - nascia uma nova sociedade,a do consumo.
Ninguém começa sózinho, e na América, Mark Twain, no seu célebre livro “Life on the Mississippi”, 1874, inova na literatura o que Evans inovará bastantes anos mais tarde na fotografia: “Every town and village along that vast stretch of double river-frontage (between Baton Rouge and St.Louis) had a best dwelling…big, square, two-story “frame” house, painted white and porticoed like a Grecian temple – with this difference, that the imposing fluted columns and Corinthian capitals were a pathetic sham, being made of white pine, and painted...
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhCiGNX6IIVSeVvpEqFu1GoI7XE2OlGqGoRc6BUoF3T_U8JS0RL8881otkwfayf9cAM3YEWsOfVsKVMQHqI_vW6PBHyIT5Ombswpv36i_pABcPWL4DwxMXc-BIIPvX9JBZ0sy16GQ/s400/F+010+%5B1024x768%5D.jpg)
Walker Evans, Breakfast Room at Belle Grove Plantation, White Chapel, Louisiana, 1935
On the end of the wooden mantel, over the fireplace, a large basket of peaches and other fruits, natural size, all done in plaster, rudely, or in wax, painted to resemble the originals – which they don’t”. Mississippi, Alabama, Louisiana, farão sempre parte dos seus itinerários.
Em Paris, (1926), na cidade dos poetas - Evans sonhava ser escritor, o método clínico de Gustave Flaubert modelará, como disse, a sua fotografia, mas o verdadeiro guia inspirador - Charles Baudelaire. “Dans certains états de l’âme presque surnaturels, la profondeur de la vie se révèle tout entière dans le spectacle , si ordinaire qu’il soit, qu’on a sous les yeux. Il en devient le symbole”, Fusées, Oeuvres complètes.
De regresso à América, com o seu amigo Ralph Steiner e em contacto com a obra de Atget, que o ensinaram a olhar para o espectáculo « si ordinaire qu’il soit”,
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgWcCwhAlfGcqUrVEREGg05PxieyMPhG2hEn3rpo4qHmQOxelZHJnGdxQCzzcOwjc1nOL2WgnyPCeLJDB9caZVCPekJqm2GOSTYHVYWnNqvjuoORwNf6j1Wu08rhrDJ_xFity3n8g/s400/F+017.jpg)
Ralph Steiner, Saratoga Billboard, c.1929
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgJX7vdZpNqMTqe4ST8b3i4KlDrvOaGYH-Ff8TGSPwjeYKjOKPZOQljy8dbBJ2lpP2jdMaq_K_8-Dm9KSUN92Vz33Fc2fdIq98-KcepncX9Rntw3VMqN0twPRwMMAJ1Zt9sCqldxA/s400/F+018+%5B1024x768%5D.jpg)
Walker Evans, Houses and Billboards in Atlanta, 1936
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhWKszP-Y2BDCH8cSdwt6MDkh9oJBUZbrWVZUfgfEpr54g17wOegDr5a1nZkGOZ3qxSAPR8bco6Yj088VR8C_h-a9YX9I69-nMJXMqunWp5_c0ZVya5VlZ2MBj73CvjdCdn9ElWFg/s400/F+022.jpg)
Eugène Atget, Austrian Embassy, 57 rue de Varenne, 1905
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgIRiWD9dejJn7CJPkQXr1qvxINuobFr3IFKz9u90uc_Pxv-qXhCfhNcopKv_k2gPt0gQ2zEHVQFuDDfxDgQlhiDl0h_d-FmQkjOH8PPMbhlxLiyGkxnuleAj9voku9y7V80dnUiA/s400/F+021.jpg)
Walker Evans, Street Scene, Brooklyn, c.1931
deixou as pretensões literárias e aprendeu o ofício da sua vida – fotografar.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEieinWK_KnSULIc4pyUS3l-R_I-JN5xOKjBl0bYS3WdUTfaAWxdGKEXdm0s7DGFlhLtTrMeZK6ZyTU69Hun1TLs6lAkcjIR9edcipUE7_GM_a1C3Z1azBOBtLAhTpA9LyVzwBXFeA/s400/F.jpg)
Walker Evans, Licence Photo Studio, New York, 1934
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiw0VIaqDm3Cv6_Dpegj10bHxlQ7S7ahzPaC8lmoIPcFL7PoV6vAfwlWX7jY9BbdlZP8_p9SFjCg368wntKOQy5kOsfqj2oHS0-V5uvC1Y3RJxeTH4TdQGCd-BTdd-jxfVSHinI9Q/s400/F+009+%5B1024x768%5D.jpg)
Walker Evans, Penny Picture Display, Savannah, 1936
Se a primeira revolução industrial iniciou na Inglaterra, os Estados Unidos e Alemanha prepararam-se melhor para a segunda. Em 1907, a Inglaterra produzia quatro vezes mais bicicletas que os Estados Unidos, mas os Estados Unidos, em contrapartida, produziam doze vezes mais carros nas suas eficientes linhas de montagem. O que as fábricas inglesas produziam, representavam o passado não o futuro e na América, Evans mostra-nos o tempo real, a transição, ao contrário dos alemães, que se deixaram fascinar pelo símbolo do progresso - os produtos manufacturados que saíam das suas fábricas.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi_upWFsA4_9OLD3yze62U598yUy-3DblXRIF92r6BSa6gDzqxV3mJZ98kBSWYvnSJi0CJeiW6xUePVqbGgiShSLxFmqyuxkPj6nQq8cUCPpZG195OR3Gf11c8qd3l5caB3v8MMTg/s400/F+023.jpg)
Albert Renger-Patzsch, Shoes Lasts at the Fagus works, Alfeld, 1926
No ano em que Evans começa a fotografar, 1928, o célebre Modelo T, que a Ford Motor Company produziu aos milhões durante vinte anos, é descontinuado. Em Westchester County, o Modelo T estacionado em frente à velha casa de ripas de madeira parece um intruso.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEirYBkLiI32w1dLmN1c18x6ID-P6mrBil9mPSJpknaMpLkpIZ0_0R4p-qMVXKYZkS9wuM_KQlcXr72heJrpe7vBx1CII3OkluwZrj4VEn5hjH_IC5mczo4FLRNk3gO6LiEPqWhkbw/s400/F+024+%5B1024x768%5D.jpg)
Walker Evans, Farmhouse in Westchester County, New York, 1931
Casa e carro merecem a mesma atenção do espectador, embora um século os separe, mas olhando para o carro, não é também ele um modelo já antigo?
Carros e filmes cativavam a América dos anos 30, e em “American Photographs”, que editou em 1938, a cultura do automóvel é bem visível:
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEij9yvWnUdTWHPgW3PrMh_f5RmJHYgcccQ1wQ0-A1YoLw2-MqOUykXDZ7cHQl9vvPiy1ZGa4fHuD57702diBNLlsT8CZbSe5WPW-CLBNFLxY4lzqgTx2BwE0K49EsUcKedA9kX3VA/s400/F+020.jpg)
Walker Evans, "American Photographs",1938, fotografias 7-10
Ao contrário do que seria esperado - o elogio ao novo meio de transporte, Evans começa a sequênia num cemitério de automóveis.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiqQYZSd1_qilK6oUDr6ZPlB6vqOvp9NMnULUa-sAPb2fa0znpVaiZSre6SwOdZNSzSiEYVEs2JSW4AqJMKnTKiepbO2LWADTsxyT_CLqG8xDChXjcbCYfPptuD-ExxQh2SB9RfPw/s400/F+012.jpg)
Walker Evans, Joe's Auto Graveyard, Pennsylvania, 1936
A fotografia seguinte, “gas”, pintado à mão na parede leprosa e suja, evoca as bombas de gasolina, onde a palavra se uniformizou.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiZNW7qCftC4-uah3VeMvH0n2yloXDOsHKuuERjoWGmPpbZpSPZDDoxVlnhQn22afj17DP3bT7CyLcrNtecG77BB8QhRcGgfeB5flpEOr4xX_ITexsQxrQiWr02sp57wAFMXwTZ_w/s400/F+013.jpg)
Walker Evans, Roadside Gas Sign, 1929
Depois, o anúncio num cartaz do novo estilo de vida proporcionado pelo carro, mas também ele ainda pintado à mão - o novo e o velho sempre em confronto.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhbQZFS63OU2iF6QWFz6-rYabxkqCxuMjo1fXX-uB6M9x_zYz2HHLS87SRU8ZOoLys6FMyTNTNx3GPt2ZbZ8Ujl5i8bIYBJ5uuoky13S_d_-ytLDk1Ar_BGrsh36yRdYhh-AALC2Q/s400/F+016.jpg)
Walker Evans, Lunch Wagon Detail, New York, 1931
Termina a sequência num “parking” onde, finalmente o jovem casal parece usufruir da nova indústria.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgZYStxMbxNoNYEjHfoaeYQ2AiwwkrBFAh-lD7_yL6nkIvrnjTtZ6nsEYYbdgwGoGJU5j8IbgGfOnmqsMqrmeFnvFtDJGYO9rY7BNuejWVhyA4yM7pZON3Tbh0vXN54fAEa3A_cqQ/s400/F+015.jpg)
Walker Evans, Parked Car, Small Town Main Street, 1932
Com um hiato de vinte anos, em “The Americans”, continuamos na estrada. Os tempos mudaram: mais produção, mais velocidade, mais mortos, como podemos ver aqui, mas Frank nunca se cansou de dizer que Evans foi um dos fotógrafos que mais o influenciou.
Walker Evans não fotografou a Depressão dos anos 30, Walker Evans fotografou a sua visão da América nos anos 30- uma visão precisa a preto e branco. Agora na era da “alta-definição em vez do tremido preto e branco”, esperamos pela visão precisa que tão alta-definição exige.
não conhecia o trabalho de Evans mas posso desde já dizer que foi também um dos que mais me influenciaram. ;)
ResponderEliminarInteressante.
ResponderEliminarVou averiguar.
Saudações,
VA
Tomé, o seu comentário - a influência de Evans no seu trabalho, inspirou-me para o próximo post.
ResponderEliminarVA, a fotografia, a par com a música, cinema...é também uma grande arte, e Walker Evans é sem dúvida um dos grandes.
Tenho vindo aqui, muitas vezes e mais outras.
ResponderEliminarEste blog é excelente, com uma seleção impecável.
Saudações.
obrigado Patrícia
ResponderEliminar