Na Europa dos anos 70, uma brusca e sustentada quebra económica, que se seguiu a anos de abundância, transformaram-na na década mais desencorajadora do século XX. O fascínio por mudar o mundo e pelas ambições colectivas que caracterizaram os anos 60 eram esquecidas, e em lugar crescia uma obsessão com as necessidades pessoais, a procura de um emprego.
A explosão consumista dos anos sessenta aumentara a dependência da Europa do petróleo barato, milhões de novos carros circulavam nas auto-estradas. Em 1973 o embargo do petróleo dos Estados árabes aos EUA, em retaliação pelo apoio a Israel, aumentou o preço em 70%, em 1979, seria a queda do Xá do Irão a provocar uma subida de 150% no seu preço. Os carros não funcionavam a carvão, e a Europa Ocidental começou a sentir a estagflação ou seja, inflação de salários/preços e abrandamento económico em simultâneo. O espantoso é que passado 40 anos, a dependência do mundo pelo ouro negro pouco mudou.
Mas nos anos 70, no espaço de uma geração, para além da inflação causada pela crise petrolífera, a Europa passava por uma terceira revolução industrial e a economia da manufactura desaparecia, os mineiros e os operários das fábricas perdiam o emprego. Em 1947, o Reino Unido contava com 958 minas de carvão e 720 000 mineiros, só 50 minas se mantinham em finais dos anos 70, e dos mineiros só ficaram 43 000.
Um suíço, Robert Frank, ainda no auge da produção de carvão, 1951-53, viajou para o País de Gales e fotografou a vida de Ben James, mineiro desde os 14 anos de idade, na aldeia de Caerau, mina que encerraria em 1979. Desde que abrira, em 1889, a vida repetia-se de geração em geração, onde os homens desciam às profundezas da terra em busca do carvão.
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Robert Frank, Wales, 1953
Tal como no cinema, "Coalface", 1935 de Alberto Cavalcanti,
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Do filme Coalface, 1935 de Alberto Cavalcanti
a fotografia britânica sempre se mostrou preocupada com o social e as fotografias de Frank revelam essa consciência, tão diferente da sua visão da América, muito mais subjectiva, poucos meses depois.
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Robert Frank, Wales, 1953
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Robert Frank, Wales, 1953
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Robert Frank, Wales, 1953
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Robert Frank, Wales, 1953
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Robert Frank, Wales, 1953
A economia mudava e a fotografia também, e o modelo do “instante decisivo”, de Cartier-Bresson, que influenciou uma geração de fotógrafos entrava em crise. As reportagens que vendia para as revistas, hoje praticamente desconhecidas, mas que vimos no post anterior, chegavam também ao fim, a televisão era impiedosa, chamaram-lhe a “nova janela do mundo”, e as revistas, que no início tinham um problema de excesso de publicidade, morreriam na década de 70 por falta dela, a LIFE por exemplo, que nascera em 1936 fechava em Dezembro de 1972. Bons fotógrafos perceberam isso. W. Eugene Smith, que antes de Frank, fotografara os mineiros ingleses, percebeu o fim do ciclo e Minamata, (1975), foi o seu último livro. Robert Frank, depois de “The Americans” envereda pelo cinema, é a sensação de que tudo já tinha sido fotografado. Mas no Reino Unido, os anos 70 foram a segunda “Golden Age” da fotografia, a primeira, corresponderia aos pioneiros, pois franceses e ingleses partilham a invenção fotográfica.
Nacionalismos? a resposta é sim no que respeita à fotografia britânica, pois eles foram os primeiros a fotografar a miséria com intuitos reformadores e na década de 70, a recessão que provocava o desemprego em todas as indústrias tradicionais: carvão, ferro, aço, químicos, têxteis, papel…alastrou a miséria pelo país. Chris Killip,
Nacionalismos? a resposta é sim no que respeita à fotografia britânica, pois eles foram os primeiros a fotografar a miséria com intuitos reformadores e na década de 70, a recessão que provocava o desemprego em todas as indústrias tradicionais: carvão, ferro, aço, químicos, têxteis, papel…alastrou a miséria pelo país. Chris Killip,
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Chris Killip, Youth on wall, Jarrow, Tyneside, 1976
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Chris Killip, Torso, Pelaw, Gateshead, Tyneside, UK, 1978
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Chris Killip, Angelic Upstarts at a Miners' Benefit Dance at the Barbary Coast Club, Sunderland, Wearside, UK, 1984
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Chris Killip, Bever, Skinningrove, 1981
Ron McCormick,
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Ron McCormick, Newport Docks, 1977
Graham Smith, Chris Steele-Perkins, Robert Haines, que regressa à sua aldeia mineira onde grassa o desemprego,
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Robert Haines, Merthyr Tydfil, 1971-72
fotografaram um país que vivia em desespero.
O espantoso foi a falta de visão e de alternativas dos políticos na década de 70, que se agarraram ao Estado-providência constituído no pós-guerra: aumentaram os salários mas simultaneamente sujeitaram os trabalhadores a uma enorme carga fiscal, aumentaram as transferências sociais para os que não tinham trabalho e subsidiaram os patrões com problemas, tanto no sector privado como no público, pagando para estes manterem trabalhadores que não necessitavam. Todas estas medidas ineficientes levaram não só ao descontentamento geral da população, as greves sucederam-se, como ao desastre deste Estado-providência, cujos serviços de segurança social entraram numa quase pré-ruptura.
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Paul Graham, "Beyond Caring", 1984-85
O inglês Paul Graham, na sua série “Beyond Caring”, um dos primeiros a utilizar a cor, está longe dos foto-ensaios da década anterior, e nesses anos em que a fotografia parecia entrar em crise, os fotógrafos britânicos criavam um novo modelo de documento social, onde não faltava a obsessão nacionalista pela crítica social. Fotografar as manifestações, as greves, os tumultos não lhes interessaram, nem tão pouco a fotografia única, magistral, o novo modelo, em séries, espelhavam o mal estar social.
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Paul Graham, "Beyond Caring", 1984-85
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Paul Graham, "Beyond Caring", 1984-85
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Paul Graham, "Beyond Caring", 1984-85
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Paul Graham, "Beyond Caring", 1984-85
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Paul Graham, "Beyond Caring", 1984-85
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Paul Graham, "Beyond Caring", 1984-85
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Paul Graham, "Beyond Caring", 1984-85
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Paul Graham, "Beyond Caring", 1984-85
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Paul Graham, "Beyond Caring", 1984-85
No decorrer desses anos, sem conseguirem actuar contra o desemprego e a inflação, as democracias demonstraram terem perdido o controlo do seu destino, no Reino Unido falava-se mesmo da “insuficiência das democracias”. Hoje a generalidade dos europeus desconfia dos políticos e os analistas receiam que os políticos das economias em desenvolvimento cometam os mesmos erros do passado.
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