Nos primeiros dias deste ano, nas bolsas de valores, ouvem-se mais os gritos de mêdo que os risos de alegria, a economia americana revela não estar bem de saúde, e a subida da taxa de desemprego na América, divulgada sexta-feira passada, levou muitos analistas a recearem o pior, “there’s a lot of fear that we’re going to enter recession” dizia ontem Jan Hatzius da Goldman Sachs. Outros, ao contrário de Hatzius, dizem que a economia americana já entrou mesmo em recessão, pois o receio de uma queda no consumo e o crédito dos empréstimos de baixa qualidade continuam a preocupar os investidores. Martin Feldstein, presidente do National Bureau of Economic Research (NBER), já veio dizer que provavelmente a Reserva Federal “will take a new round of tax cuts”, enfim, medida que nós portugueses estamos longe de ouvir.
Mas nem tudo corre mal nas bolsas, o ouro, o petróleo e os produtos agrícolas, vulgarmente chamados de “commodities”, sobem, embora por razões distintas. Já falámos no ouro, no petróleo, porque não falar hoje dos cereais, já que o milho serve de publicidade às casas de trading?
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Desde a antiguidade, como no Sonho do Faraó narrado no livro dos Génesis, o homem recolhe nos celeiros a quinta parte do trigo dos sete anos de fartura para fazer face à futura fome dos sete anos de seca e hoje, como nos tempos do antigo Egipto, os celeiros da América recolhem o trigo excedente para se fazer face aos anos de seca.
Na planatura do Midwest, Art Sinsabaugh, fotografou, com uma câmara panorâmica, para assim captar melhor esse horizonte sem fim, os celeiros integrados na paisagem.
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Frank Gohlke, preferiu aproximar-se, e fotografou os depósitos de cereais, não muito diferentes das tipologias do casal Bernd e Hilla Becher.
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Mas os colapsos não ocorrem só nas bolsas, e em Minneapolis, Gohlke fotografou o colapso de um depósito de cereais.
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Arthur Lavine preferiu registar as fases de uma colheita, nesse mesmo Midwest.
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Outros fotografaram os cereais já empilhados em sacos.
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Jack Delano, Sacos de Açúcar, c. 1940
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Mas hoje, os celeiros da América estão a ficar sem reservas, e no ano que passou, o stock de cereais caiu mais de 53 milhões de toneladas, um indicador que revela que a procura é superior à oferta. Mas se as colheitas são boas, excepção para a Austrália que se debate desde há dois anos com uma terrível seca, o que provoca então esta subida repentina?
Durante anos, os futuros dos cereais, trigo, milho...acompanharam a planatura do Midwest, ou seja pouco variaram no preço, mas agora os analistas apontam as causas das subidas recentes: o crescimento de riqueza na China e na Índia, onde agora se consome mais carne de animais alimentados a cereais, e a procura do milho para o fabrico do etanol, “Ethanol – The Pollution solution”, como anunciam as bombas de gasolina na América. No Brasil, o etanol que faz andar os “carochas” é feito à base de cana de açúcar.
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Tina Modotti, cana de açúcar, 1925-26
Mas agora que chegámos ao fim vou revelar ao leitor a verdadeira fonte de inspiração deste post. Há dias tropeçei nesta esplêndida fotografia de Carleton Watkins.
Mas agora que chegámos ao fim vou revelar ao leitor a verdadeira fonte de inspiração deste post. Há dias tropeçei nesta esplêndida fotografia de Carleton Watkins.
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Carleton Watkins, Late George, Cling Peaches, 1887-88
Watkins, que serviu já aqui de inspiração à Corrida ao Ouro, não fotografou cereais mas pêssegos. Mas ao olhar para os pêssegos de Watkins, um olhar que tem mais de um século, impressionou-me a estética limpa da imagem que não difere dos sacos de açúcar, trigo,...dos fotógrafos modernos. Não será o moderno muitas vezes uma reinvenção do passado?
Madalena,
ResponderEliminarGosto muito do seu blogue, onde tenho aprendido muito sobre fotografia e não só.
Não sei se a caixa de comentários é o melhor sítio para esta mensagem, mas não vejo nenhuma indicação de mail e não queria deixar de lhe dizer do gosto que me dá ler e ver o que por aqui vai.
Rita
Obrigado Rita pelo simpático comentário
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