“Em 1906, D. Carlos apostou em João Franco, um político que já tinha sido seu ministro várias vezes, para reequilibrar o sistema político e financeiro da monarquia constitucional. Imaginou certamente que podia inaugurar uma era de estabilidade e prosperidade, em que fosse possível proceder à transformação tranquila do país, segundo os padrões do liberalismo, (...). Em 1907, quando a restante elite política o tentou obrigar a demitir Franco, resistiu. Era o que se esperava da sua reputação de coragem”.
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Joshua Benoliel, O presidente do conselho João Franco a chegar a Coimbra, na histórica jornado do Porto, Junho de 1907
“Mas o rei não contou certamente que os seus inimigos fossem tão longe, como acabaram por ir na tarde de 1 de Fevereiro de 1908, quando na companhia da rainha e dos príncipes, começou a travaessia do Terreiro do Paço numa carruagem aberta, e sem escolta.(...) o caminho da reforma acabou por ser afinal o caminho da perdição”, (...) e seria a maneira da sua morte, mais do que a sua vida, que o tornou memorável”.
Como historiador e investigador, Ramos pretende repor a verdadeira história desse reinado e ressaltar a importância da monarquia constitucional de D. Carlos, como ele refere “nada como uma tragédia para afunilar a memória e a história”. “Neste livro, não vou tentar fazer uma aproximação intimista ao indivíduo, mas uma análise política do rei, (...) analisar as suas decisões em contexto. A interpretação de D.Carlos apresentada neste livro assenta numa reflexão sobre a cultura política do liberalismo português...”.
Não há registo fotográfico do momento quando o landau, a carruagem aberta onde seguia a família real, foi alvo do tiroteio. Joshua Benoliel, (1873-1932) o repórter fotográfico, registou o antes, a espera de D. Manuel, que regressara mais cedo a Lisboa e aguardava no cais fluvial do Terreiro do Paço os seus pais que chegavam no barco a vapor vindo do Barreiro.
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Joshua Benoliel, infante D. Manuel aguarda no cais, 1 Fevereiro 1908
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Illustração Portugueza, 10 Fevereiro, 1908, A cem metros do Thrôno, A cem passos da morte.
O que se passou naquela tarde, foi objecto de variadíssimos relatos na imprensa da época e memórias posteriores, mas não há dois exactamente iguais, revela Rui Ramos. Nem mesmo os depoimentos da rainha e do infante coincidem. Na plataforma central, junto à estátua de D.José um “homem de barba preta” disparou um tiro de carabina, logo outro homem, saindo das arcadas do Ministério da Fazenda, correu para a carruagem e dependorando-se no estribo, disparou também sobre o rei.
Ambos foram abatidos no local pela polícia, e fácil foi a sua identificação. O “homem da barba preta” chamava-se Manuel dos Reis da Silva Buíça,
Ambos foram abatidos no local pela polícia, e fácil foi a sua identificação. O “homem da barba preta” chamava-se Manuel dos Reis da Silva Buíça,
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Joshua Benoliel, Manuel Buíça, Fevereiro 1908
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Illustração Portugueza, O attentado, 10 Fevereiro, 1908
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L'Illustration, 8 Février, 1908,( capa).
o do estribo chamava-se Alfredo Luis da Costa. Mas o apuramento da responsabilidade pelo regicídio “é um terreno minado por falsas pistas, fantasias e lendas, em que ninguém resistiu à tentação de inventar...”, escreve Rui Ramos. A imprensa com o que ouvira desenhou o atentado,
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Alberto Souza, Fevereiro 1908
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Simon, Fevereiro, 1908
outros jornais fizeram fotomontagens, de desenhos e fotografias do Terreiro do Paço.
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Reconstituição fotográfica do Regicídio, autor desconhecido, ABC, 3 Febrero 1908
O jornal L’Illustration destacou o acontecimento, não esqueçamos que D. Amélia era a filha mais velha do Conde de Paris . 
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L'Illustration, 8 Février, 1908, Fotografias de Joshua Benoliel
“Mas nem o governo nem os seus orgãos na imprensa acusaram ninguém – a não ser, vagamente, “exaltados anarquistas”, como o fez num primeiro momento o redactor do Jornal da Noite, ainda sem saber pormenores do caso”. Dias mais tarde a Illustração Portuguesa, revista do jornal O Século, mostrava as seguintes imagens: Orfandade, os filhos de Manuel Buíça, e o Exílio de João Franco.
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Illustração Portugueza, 17 Fevereiro, 1908, Fotografias de Joshua Benoliel
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Joshua Benoliel, Fevereiro, 1908
“Depois de embalsamados os corpos, descobriu-se que a urna encomendada para o rei era demasiado pequena. Houve que esperar que se fizessem outra”. R. Ramos.
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Joshua Benoliel, Fevereiro, 1908, Construção da urna de D. Carlos
“Os tiros de que ficaram marcas na carruagem indicam que o príncipe real e o infante foram alvejados repetidamente”. R.Ramos
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Joshua Benoliel, O landau do regicídio, vêem-se os furos das balas, Fevereiro, 1908
À medida que a notícia se espalhou, a cidade esvaziou-se. Luis Teixeira de Sampaio, da Direcção política do Ministério dos Negócios Estrangeiros, no lado oriental da praça seguiu tudo de longe. Chegou a casa ao mesmo tempo da irmã “que lhe contou que tinha estado na Baixa, às compras, até um conhecido lhe ter recomendado que voltasse imediatamente para casa”.R.Ramos
Joshua Benoliel foi o fotógrafo desse tempo, fotografou a viragem do século, desde a Monarquia Constitucional à República e as suas fotografias, largamente reproduzidas na Illustração Portuguesa,
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asseguram um lugar pioneiro na prática e desenvolvimento do fotojornalismo. Para além dos acontecimentos políticos, Benoliel foi também um curioso documentarista de costumes e personagens urbanos.
Benoliel não estava lá nessa tarde do dia 1 de Fevereiro de 1908, a fotografar as senhoras às compras na Baixa Lisboeta, mas deixou-nos informação suficiente para reconstituir-mos hoje a sociedade dessa época.
Benoliel não estava lá nessa tarde do dia 1 de Fevereiro de 1908, a fotografar as senhoras às compras na Baixa Lisboeta, mas deixou-nos informação suficiente para reconstituir-mos hoje a sociedade dessa época.
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Illustração Portugueza, 1912, fotografias de Joshua Benoliel
excelente...muito bem feita a associação de imagens com texto
ResponderEliminare está muito completo em informação
Excelente artigo seu, tomei a liberdade de edita-lo no Causa M onárqica, site associado do Instituto de Democracia Portuguesa.
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