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No passado fim de semana, Danièle Cohn esteve em Portugal onde participou no programa “O Estado do Mundo” na Fundação Calouste Gulbenkian. Dois eventos que não tendo um a ver com o outro se completam.
Numa entrevista publicada sábado no jornal Público Cohn refere que foi o ensaio de Susan Sontag, “Olhando a dor dos outros” que a inspirou para a primeira questão que coloca “não olhamos nós sempre a dor dos outros?” e continua “Recebemos, como uma televisão “recebe” imagens do Ruanda ou do Darfur: somos passivos, assistimos ao espectáculo de um mundo que nos é mostrado à mesa do jantar numa confusão entre o próximo e o longinquo”.
Sontag no ensaio que inspirou Cohn escreve “Não pode haver a mínima suspeita da autenticidade daquilo que se vê na fotografia tirada por Eddie Adams em Fevereiro de 1968...
Numa entrevista publicada sábado no jornal Público Cohn refere que foi o ensaio de Susan Sontag, “Olhando a dor dos outros” que a inspirou para a primeira questão que coloca “não olhamos nós sempre a dor dos outros?” e continua “Recebemos, como uma televisão “recebe” imagens do Ruanda ou do Darfur: somos passivos, assistimos ao espectáculo de um mundo que nos é mostrado à mesa do jantar numa confusão entre o próximo e o longinquo”.
Sontag no ensaio que inspirou Cohn escreve “Não pode haver a mínima suspeita da autenticidade daquilo que se vê na fotografia tirada por Eddie Adams em Fevereiro de 1968...
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o general-brigadeiro Nguyen Ngoc Loan, a dar um tiro num homem suspeito de ser vietcong numa rua de Saigão. No entanto essa fotografia foi encenada – pelo general Loan, que conduzira o preso, as mãos atrás das costas, para a rua onde os jornalistas estavam; aquela execução sumária não se teria realizado se eles ali não estivessem para a testemunhar”. Para além de fotografada esta cena foi simultâneamente filmada. Segundo a revista Foreign Affairs de Dezembro 2005, esta cena tem lugar no dia seguinte à ofensiva de TET pelos guerrilheiros vietcong. O guerrilheiro, que vemos na fotografia tinha morto na véspera 8 vietnamitas do sul. No dia seguinte, pela hora do jantar os americanos assistiam ao filme da execução pela televisão, pela manhã viam a fotografia na primeira página dos jornais.
Como revela o gráfico da revista,
Como revela o gráfico da revista,
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é a partir da ofensiva de TET, com a divulgação do filme e fotografia, que os americanos tomam uma posição mais crítica da guerra.
Mas passados estes anos os tempos mudam e hoje com o turbilhão de imagens de guerra que vemos todos os dias, acabamos por experimentar uma indiferença que nem sempre nos envergonha, diz Cohn. E continua “Que nos pedem essas imagens?” “Pergunto-me se isso não tem a ver com o facto de serem imagens e não obras de arte? Quando há arte, há invenção de uma forma, um trabalho para a produzir e temos consciência disso...os artistas de hoje experimentam as imagens de horror que invadem as suas vidas como as nossas. Mas como artistas podem agir. É pela acção e não pela visão que os artistas podem agir”.
O trabalho de Jaar exemplifica o que Cohn diz. Este artista chileno, utiliza frequentemente a fotografia como base para o seu trabalho, mas raramente utiliza séries de imagens. Cohn fala do Ruanda, Jaar chega ao Ruanda em Agosto de 1994. Já quase um milhão, a maior parte tutsi, tinha morrido nos massacres. Jaar fotografa. Para ele o horror está também na indiferença do Ocidente ao terrível genocídio. Jaar faz várias instalações sobre o massacre do Ruanda e nessas instalações, o papel da fotografia como representação da catástrofe, é posta em causa, para ele “It would not make a difference, showing more images of the massacre more images than had been seen in the media”.
Numa das primeiras intalações, Jaar critica a indiferença do Ocidente utilizando as capas da revista Newsweek durante os meses do genocídio.
Mas passados estes anos os tempos mudam e hoje com o turbilhão de imagens de guerra que vemos todos os dias, acabamos por experimentar uma indiferença que nem sempre nos envergonha, diz Cohn. E continua “Que nos pedem essas imagens?” “Pergunto-me se isso não tem a ver com o facto de serem imagens e não obras de arte? Quando há arte, há invenção de uma forma, um trabalho para a produzir e temos consciência disso...os artistas de hoje experimentam as imagens de horror que invadem as suas vidas como as nossas. Mas como artistas podem agir. É pela acção e não pela visão que os artistas podem agir”.
O trabalho de Jaar exemplifica o que Cohn diz. Este artista chileno, utiliza frequentemente a fotografia como base para o seu trabalho, mas raramente utiliza séries de imagens. Cohn fala do Ruanda, Jaar chega ao Ruanda em Agosto de 1994. Já quase um milhão, a maior parte tutsi, tinha morrido nos massacres. Jaar fotografa. Para ele o horror está também na indiferença do Ocidente ao terrível genocídio. Jaar faz várias instalações sobre o massacre do Ruanda e nessas instalações, o papel da fotografia como representação da catástrofe, é posta em causa, para ele “It would not make a difference, showing more images of the massacre more images than had been seen in the media”.
Numa das primeiras intalações, Jaar critica a indiferença do Ocidente utilizando as capas da revista Newsweek durante os meses do genocídio.
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Nenhum refere os massacres de Ruanda. Em seguida, instala 50 caixas de luz pela cidade de Malmo, na Suécia, só com Ruanda escrito, não utilizando nenhuma imagem.
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“Real pictures”, são 550 caixas de arquivo fechadas, contendo cada caixa uma fotografia. No topo de cada caixa Jaar descreve a imagem fotográfica que lá está dentro.
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“The Eyes of Guteta Emerita” que se pode ver na exposição de “La politique des images”é mais outra instalação relativa ao Ruanda. Jaar mostra-nos o fragmento de uma imagem, os olhos de uma mulher que testemunha o massacre de que foi vítima a sua família, quando numa manhã de domingo assistiam à missa. No Ruanda, das imensas fotografias que aí tirou, Jaar só nos mostra este fragmento dos olhos de Guteta Emerita.
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“Os artistas são engagés, propõem-nos reflexões feitas nas suas obras, e levam-nos a reflectir por nosso lado” diz Cohn na entrevista.
Cohn dá como exemplos, Ruanda e Darfur. Hoje recebi na minha caixa de correio um pedido de ajuda para a situação de Darfur. Darfur é hoje considerado o genocídio do século XXI. Kofi Annan, no momento em que se retirava das suas funções, reconhecia que Darfur era o maior desaire da ONU nos últimos anos.
Para saber sobre a situação no Darfur click aqui.
Para assinar a petição click aqui.
Cohn dá como exemplos, Ruanda e Darfur. Hoje recebi na minha caixa de correio um pedido de ajuda para a situação de Darfur. Darfur é hoje considerado o genocídio do século XXI. Kofi Annan, no momento em que se retirava das suas funções, reconhecia que Darfur era o maior desaire da ONU nos últimos anos.
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