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No passado mês de Novembro, estreavam nas nossas salas de cinema dois filmes sobre a cidade de Paris. “En Paris” de Christophe Honoré, e “Paris je t’aime” projecto imaginado por Tristan Carné, que convidou 20 cineastas a filmar uma curta-metragem sobre cada um dos vinte bairros de Paris. ”Uma cidade como Paris é fácil cair no bilhete postal...Por exemplo, não queria filmar a Torre Eiffel. Mas depois encontrámos aquele apartamento com vista para a Torre Eiffel...É Hitchcock quem diz que é melhor partir do cliché e chegar a outro sítio do que partir de outro sítio e chegar ao cliché. Decidi ter a Torre Eiffel...” diz Christophe Honoré numa entrevista. Já em “Paris je t’aime”, a última coisa que qualquer dos realizadores queria fazer era um filme do 7º “arrondissement”, local da Torre Eiffel. Foi o último realizador convidado, Sylvain Chomet, a ficar com ele, “ninguém o queria, a Torre Eiffel não é fácil de ser colocada em filme, mas era o que me restava” lamenta Chomet.
Se a Torre Eiffel é difícil de colocar em filme, fotografá-la sem se cair na repetição será ainda mais difícil. Mas na década de 1920, pintores e fotógrafos não tinham as preocupações dos cineastas de hoje, e a Torre Eiffel serviu de fonte de inspiração a todos eles. Esta enorme estrutura de ferro, um elogio à engenharia, era vista como o símbolo da modernidade. Paris na época era o centro de múltiplos movimentos artísticos e os artistas escolhiam-na para aí viverem uma existência fervilhante.
Man Ray, Germaine Krull, André Kertész, Brassai, todos eles na mesma década e todos eles estrangeiros elegem Paris como porto de abrigo.
Nova Iorque não estava preparada para quem queria expressar-se de uma forma tão absurda e irreverente como Man Ray. Uma profunda afinidade une-o a Marcel Duchamp, e é pela mão deste que Man Ray chega a Paris em Julho de 1921.
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Man Ray, Torre Eiffel, 1922
Surrealismo e a “magia inquietante do real”, insegurança e fragilidade reflectem um sentimento que se vive na cidade. Á semelhança das imagens surrealistas, a Torre Eiffel de Man Ray é difícil de identificar, e esta imagem indefinida, reflecte a própria realidade do fotógrafo, acabado de chegar á cidade, as suas ambições e futuro como artista são ainda uma incógnita.
A Alemanha, país derrotado na primeira guerra, torna-se no período subsequente numa verdadeira potência industrial, foi a resposta à derrota humilhante. Germaine Krull vê na revolução industrial um benefício para o homem e esta geração de artistas reconciliam-se com o novo mundo das máquinas e com os objectos por ela fabricados. Em 1926, em Paris, deixa-se cativar pela estrutura de ferro da Torre Eiffel.
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Germaine Krull, Torre Eiffel, 1928
A editora Calavas publicará no ano seguinte “Métal” um elogio a esta e outras obras de engenharia. Os seus ângulos aproximados e obliquos não nos deixam contudo perceber de que estrutura se trata, pode ser a Torre Eiffel ou outra estrutura metálica qualquer, são os ângulos de influência construtivista.
Deixando a sua Budapeste em 1925, André Kertész um romântico instala-se em Paris. Também ele é seduzido pela Torre Eiffel.
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André Kertész, Torre Eiffel, 1929
Nesta fotografia, Kertész revela também um gosto pelos ângulos obliquos dos construtivistas, mas ao contrário destes, em que as experiências geométricas são a única e principal preocupação, Kertész mantêm o seu lado romântico. As sombras de que ele tanto gosta, são projectadas no chão e imprimem um certo mistério à fotografia, o seu lado romântico, mas simultaneamente a fotografia apresenta uma composição geométrica cuidada. O ângulo do relvado e a diagonal pronunciada da rua coincide com as ideias de Theo van Doesburg, que defendia o princípio dos ângulos pronunciados para conseguir composições abstractas dinâmicas. Kertész consegue de forma única juntar duas visões aparentemente tão opostas.
E finalmente o noctívago Brassai, que deixa a sua Hungria por Paris, cidade que nunca mais abandonará.
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Brassai, Torre Eiffel, do livro Paris la Nuit, 1930
Brassai gosta da noite e fotografa a cidade quando as sombras invadem todos os recantos. A electricidade era a grande novidade e a cidade deixava de ser iluminada a gás. Se na exposição do centenário da revolução francesa, em 1889, a Torre Eiffel é o expoente máximo das novas estruturas metálicas, na Exposição Universal de 1900 é o palácio da electricidade que é a atracção máxima. Brassai fotografa a Torre Eiffel iluminada a electricidade.
Eugène Atget, que não se considerava artista e que dizia que as suas fotografias eram documentos para artistas, fotografou aquilo que ele pressentiu desaparecer na cidade. A Torre Eiffel que fora construída como uma obra temporária, fora pedido a Eiffel uma estrutura que durasse vinte anos, é hoje a imagem de marca da cidade.
Atget nunca fotografou a Torre Eiffel.
em Paris (a nossa cidade favorita)ficámos seduzidos pela Torrre Eiffel, fotografias das diversas fases de construção moram na nossa sala... aqui deixamos outro filme sobre Paris, mais antigo, o "Paris vu par"...maravilhoso
ResponderEliminaruma boa Páscoa e bons filmes
paula e rui lima
Existe um texto muito bom de Roland Barthes sobre a Torre Eiffel e a sua relação com Paris
ResponderEliminarpode ser encontrado no livro - Re-thinking Architecture de Neil Leach