Jorge Calado, não foi convidado, mas se o fosse INGenuidades responderia a todas as crises postas em aberto por Fontcuberta.
INGnuidades é uma das histórias possíveis da fotografia, como já em 2003, Pedras e Rochas em fotografia, exposição encomendada pela Fundação Eugénio de Almeida a Jorge Calado, o tinha sido.
Na presente exposição tudo foi cuidado ao pormenor: os sons que se fazem ouvir ao longo da sala que completam o que vemos, o uso de diferentes cores consoante as especialidades da engenharia, e por fim o jardim da Fundação.
Na Engenharia Hidráulica temos este azul e
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esta vista para o jardim.
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Entremos agora no mundo das engenharias.
Começemos com uma das engenharias mais antigas, a mineira. O meu olhar fixou-se na Pepita de ouro com 202 onças de Carleton Watkins (1829-1916).
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A pepita de ouro de Watkins, leva-nos para uma aventura, que ainda hoje é das mais fascinantes da história do Oeste americano, a mítica corrida ao ouro no ano de 1848. Confirmada a existência deste precioso metal na região da Sierra Nevada na Califórnia, logo os jornais da época divulgavam a descoberta. Em Dezembro de 1848, no Philadelphia Sunday, lia-se a seguinte notícia “ Here is El Dorado, of which Ponce de Léon and his companions so vividly dreamed...”. Se a população da Califórnia, antes de 1848 se reduzia quase a mexicanos (c.12 000) e nativos (c. 20 000), os Yankee, entre soldados e colonizadores não eram mais de 2 000. Em 1850 ultrapassavam os 100 000. Chegar lá não era fácil, a Central Pacific Railroad, uma obra magnífica da engenharia, só terminaria em 1869. Chegavam de barco e atracavam na baía de S.Francisco. Era daí que os aventureiros partiam para o sopé da Sierra Nevada. Watkins entusiamado com a nova terra prometida, deixa Nova Iorque, onde vivia, e vai para a Califórnia. Em 1854, Watkins já se estabelecera como fotógrafo em S.Francisco. A cidade cresce com a corrida ao ouro, e cresce tal como as crianças a ser fotografada, por coincidência a fotografia foi inventada na precisa altura em que a Califórnia começava a ser colonizada. Se hoje Watkins, é mais conhecido pelas fotografias que tirou da cidade e do Yosemite Park,
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Best View, Yosemite,1865,C.Watkins
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S.Francisco c.1865, C. Watkins
Watkins também fotografou extensamente a região mineira da Sierra Nevada.
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Mining in Boise c. 1860.C. Watkins
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Sierra Nevada Mining, c.1860, C. Watkins
Eu não conhecia esta preciosa Pepita de ouro, aparentemente tão simples mas símbolo desta magnífica aventura que foi a colonização do Oeste Americano.
É graças à grande comercialização das suas fotografias, que hoje as podemos ver. No folheto, distribuido a quem visita a exposição lê-se: “O terramoto de São Francisco em 1906 foi a primeria grande catástrofe a ser extensivamente documentada pela fotografia, da terra e do ar: 80% da cidade destruída pelo tremor e fogo, ¾ da população sem abrigo”. Pode-se acrescentar, o terível terramoto de 1906, destruiu na totalidade os arquivos de Watkins.
E terminemos as minas com esta mais recente de Edward Burtynsky, Minas #22, mina de cobre Kennecott Bingham Valley no Utah em 1984.
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E é Edward Burtynsky, que nos leva agora para a Engenharia Naval, para olharmos para estas duas fotografias a que deu o nome de Quebrando Navios, Chittagong Bangladesh 2000, a outra tirada em 2001. O trabalho de Burtynsky interessou-me particularmente, não o conhecia.
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Ainda nos mares mas num local mais escurecido, porque as albuminas não gostam de luz, encontramos a fotografia de Robert Howlett(1832-1858), Isambard Kingdom Brunel, 1857, carte de visite. Fotografia largamente reproduzida nas Histórias da Fotografia, sempre em grande formato. Foi a primeira vez que vi um original e fiquei surpresa com esta minúscula carte de visite.
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Beaumont Newhall, também a edita na sua History of Photography e escreve: Robert Howlett, Isambard Kingdom Brunel, builder of the steamship “Great Eastern”, Standing Against the Launching Chains, 1857. Albumen print. George Eastman House, Rochester, N.Y., Newhall não nos dá as dimensões.
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Veio-me à memória o Musée Imaginaire de Malraux.
Passemos agora para o presente, e na Engenharia Civil olhemos para La Courneuve Implosion 8 June 2000, de Mathieu Pernot.
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“O ciclo vital das engenharias – criação, destruição, reciclagem-.”Aqui olhamos para a destruição, o método de implosão, utilizado pela engenharia.
Mas a implosão não é só do edifício, é também a implosão dos sonhos que prometeram a estas famílias que foram para aí viver.
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Le Scandale des mal-logés. La Courneuve, 1952, Jean-Philippe Charbonnier
Os arquitectos queriam um mundo geométrico, perfeito...
Untitled (Reprodução de postais, da série “o melhor dos mundos” Anos 1950/2006.
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Mathieu Pernot
Neste momento vou perguntar ao leitor o seguinte: Sabe localizar estas fotografias de André Kertész na exposição? é evidente que só pode responder quem já a viu.
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Arm and Ventilator, New York,1937, André Kertész
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Será na Engenharia mecânica?
No Corpo Prolongado?
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Secção do Corpo Prolongado na exposição
Não, Kertész, não está na exposição e não é nenhuma crítica à sua ausência, antes é percebermos a tarefa àrdua do comissário, na selecção das fotografias a integrar na exposição.
Espantosa a organização desta exposição, quem esperaria ver Robert Frank na Engenharia Eléctrica?
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Um monumento à Electricidade + Fotografia, 1976, Robert Frank
Do lado direito desta fotografia de Frank, fica “Árvore a Arder” de Dean Sewell, única fotografia da exposição com a descrição mais longa: “A combustão de uma árvore aparentemente morta (que suga o ar, causando um vácuo) espirrando faúlhas e brasas incandescentes, depois dos fogos que assolaram a capital da Austrália, Canberra a 18 de Janeiro de 2003. Ao longe, vê-se o engarrafamento de trânsito, com os condutores a procurarem escapar aos detritos em brasa que voavam por todo o lado”.
Não vou mostrar a fotografia, antes criar a vontade de quem ainda não foi à exposição de a ir ver.
Exposição na Fundação Calouste Gulbenkian, de 9 de Fevereiro a 29 de Abril 2007
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