Visitar o museu Rijksmuseum de Amesterdão na companhia de Jan Dibbets é fazer uma peregrinação aos nomes de Jacob van Ruisdael, Hercules Seghers, Philips de Koninck, Jan Vermeer e sobretudo Pieter Saenredam, como se lê no catálogo da exposição de Jan Dibbets, no museu Zadkine em Paris. “Un grand oeil bien ouvert sur tout ce qui vit: Jan Dibbets au musée Zadkine”, é o título do texto, e a citação adapta-se aos cinco pintores referidos, diz o autor.
Correções de Perspectiva, série de fotografias tiradas no estúdio de Dibbets em 1969, questionam os mecanismos da percepção e a noção do ponto de vista. Através da fotografia, Dibbets testemunha as transformações da perspectiva. Quadrado ou trapézio? tudo depende do ponto de vista.
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Jan Dibbets, Perspective Correction- My Studio II, 1969
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Jan Dibbets, Perspective Correction - My Studio I,1969
Dibbets fotografou um trapézio, é esta a forma geométrica que está desenhada na parede e no chão. Se o ponto de vista fosse de frente para a parede ou de cima para baixo para fotografar a figura da parede e do chão, o trapézio mantinha a sua forma na fotografia. Contudo o ponto de vista utilizado por Dibbets, transforma o trapézio em quadrado. Esta transformação causa desconforto, o quadrado pareçe sair da parede e levantar-se do chão. O nosso cérebro não gosta de discontinuidades, e neste caso não sabe como agir para processar a ilusão criada pela máquina fotográfica. Não consegue extrapolar ou estabelecer relações, mesmo que falsas, para repor o equilíbrio a que estamos habituados, i.e., a perspectiva geométrica.
Em 2004, Dibbets fotografa o mesmo tema mas, nesta circunstância, Donald Judd e Carl André dão uma ajuda preciosa ao nosso cérebro, transformando-se as suas obras, segundo as regras da perspectiva.
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Jan Dibbets, Perspective Colletion- Carl AndréI,2004 Jan Dibbets, Perspective Collection- Judd,2004
A exposição de Dibbets no museu Zadkine é mais uma das suas homenagens ao pintor Pieter Saenredam. No verão de 2003, fotografa o jardim, casa e o atelier de Zadkine, local onde irá realizar a exposição. Regressando ao tema que tanto gosta, o apaixona, o obsedia, Dibbets, utilizando a arquitectura como iconografia, como Saenredam havia feito em realação ao interior das igrejas, transgridindo a visão real e possibilitando um novo olhar sobre os espaços e o interior das mesmas igrejas, a partir de vistas insólitas obtidas e trabalhadas de acordo com múltiplos e diferentes pontos de vista, fotografa o jardim, a casa e o atelier de Zadkine e, seguindo processos idênticos de transgressão da lei da perspectiva, cria perspectivas “impossíveis” a partir de imagens panorâmicas em forma circular e em linha recta, reconstruidas a partir de fotografias tiradas de diferentes ângulos de um mesmo espaço .
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Pieter Saenredam,1636 Pieter Saenredam,1649
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Jan Dibbets, Saenredam-Zadkine II,2003
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Jan Dibbets, Saenredam-Zadkine VI,2003
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No museu, local da exposição, o espectador confrontava-se assim com o espaço real e o novo espaço recriado pelas fotografias. Para entrar no jogo de Dibbets, tirei fotografias do jardim, casa e atelier de forma a acentuar a distância que existe entre elas e as suas reconstruções panorâmicas:
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Jan Dibbets, Saenredam-ZadkineV,2003
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Estará, afinal, a pintura holandesa do século XVII assim tão afastada das práticas contemporâneas?
Olá!
ResponderEliminarFaço um estudo sobre a questão da utilização da perspectiva na arte contemporânea, como a percepção do espaço, a manipulação do ponto de vista, a deformação, através do trabalho da artista plástica brasileira Regina Silveira. E no meu trabalho eu cito Jan Dibbets e suas séries Perspective Correction e Comets. Muito bacana ler o seu blog.
Parabéns!