domingo, novembro 12, 2006

Fotografia: Políticas e Práticas;Debates na Arte Lisboa

Comecemos pelo fim. Terminado o debate, o coordenador, Maçãs de Carvalho, perguntou à assistência se alguém tinha alguma questão a colocar. Um fotógrafo (como o próprio se apresentou), sentado ao meu lado, pediu o microfone. Começou por dizer, que não tinha nenhuma questão, queria só dar uma achega..., que tinha ido aquele debate para entender as políticas e práticas da fotografia, e que saía ainda mais baralhado... Como o mesmo parece ter sucedido com os restantes assistentes. Na verdade, a maioria das questões haviam sido já formuladas nas intervenções dos convidados, parecendo a assistência tudo ter ouvido com atenção mas sem saber bem o que dizer ou questionar no final.

Horacio Fernández, abrindo a sessão, falou sobre a sua experiência como comissário das duas últimas edições do PHotoespaña. Apresentação breve, uma vez não querer, como disse, monopolizar a conversa dado o número de convidados a intervir. Foi pena, no meu caso, pelo menos, fui lá principalmente para o ouvir...

Com o início das intervenções seguintes, começaram então a surgir as questões: Faz sentido manter os festivais como os de Braga? Faz sentido que os encontros de Coimbra tenham terminado em 2000? Faz sentido a mudança do modelo dos encontros para as exposições organizadas pelo CAV (Centro de Artes Visuais)? Faz sentido a existência do CPF (Centro Português de Fotografia) nos moldes actuais? Faz sentido um debate sobre fotografia (como disciplina autónoma) no contexto da feira Arte Lisboa?...

João Mário Grilo interrogáva e interrogava-se como era possível ter visto sózinho uma exposição como a de Weegee, aquando da LisboaPhoto 2003. Exactamente a mesma interrogação que me havia ocorrido quando percorria as salas do palácio da Ajuda, também sózinha...

Inevitável as comparações e, em breve, as questões passaram para os nossos vizinhos mais próximos, a Espanha e a França. E Arles? E o Mois de la Photo? São modelos que servem?

O fosso entre Espanha e Portugal foi denunciado por Alexandre Pomar. Mostrou o livro “vidas privadas” colección Fundación Foto Colectania - que grande a distância entre os textos espanhois e portugueses, sendo Fernando Lemos e Gérard Castello Lopes as excepções...

Mas porque fui ouvir Horácio Fernández?


Em 1998, os comissários Salvador Albinâna e Horacio Fernández expunham no IVAM - “Mexicana. Fotografia Moderna en México, 1923-1940”. Não tive oportunidade de ir à exposição. Comprei o catálogo na Fnac, e apaixonei-me pelo México. Embora já conhecesse as fotografias de Weston, Modotti, Álvarez Bravo, Cartier Bresson, Paul Strand... o catálogo funcionou para mim como um “click”. As ligações sucederam-se, do “The Daybooks” de Edward Weston a Modotti, aos arquivos fotográficos dos Casasola, à história fotográfica mexicana, Mexican Suite, à Frida Kahlo: Portraits of an Icon, ao filme Que viva México de Eisenstein até chegar aos trabalhos mais recentes de Graciela Iturbide....

Quando, numa entrevista, perguntaram a Madonna como começou a sua coleção de fotografias, respondeu: “...from Frida Kahlo I found out about Tina Modotti and then I started collecting her stuff and Edward Weston, and one person always leads to another person with me, because for me it started with Diego Rivera, then it went to Tina, and Edward and... (She trails off). Also if you’re into Picasso, and you want to find out about him and that whole area of art and European culture, then you start reading about Man Ray and the surrealists and André Breton, and all of a sudden you’re in that whole world and you start having interests in other people. It’s like a disease”. “Of the best Kind”_ responde-lhe ainda o entrevistador Vince Aletti.).

Julgo que o que nos falta por vezes é um “click” para entrarmos nesta teia maravilhosa que é a história da fotografia, razão, afinal, também porque escrevo este Blog.

Iniciei as primeiras linhas referindo que a escolha da fotografia do cartaz do Doclisboa 2006 surpreendia num país onde a cultura fotográfica se centra sobretudo nas obras contemporâneas. Julgo que só se pode entender e apreciar a fotografia contemporânea se conhecermos a sua história e é sobre essa história, sem seguir uma ordem cronológica para a não tornar fastidiosa, que pretendo escrever. É trabalho que leva tempo. Mas se nos deixarmos levar por estas ligações acabamos apaixonados pela fotografia, a frequentar exposições, a consultar livros, a escrever ... Tem um risco, claro, “it’s like a disease”. Doença contagiosa, que se espalha como um vírus. Sermos responsáveis pela sua disseminação, um pouco que seja, pelo seu bom contágio, também nos parece importante, necessário _ e não deixa de dar um certo gozo.

1 comentário:

MytyMyky disse...

"...sem seguir uma ordem cronológica para a não tornar fastidiosa, que pretendo escrever. É trabalho que leva tempo. ..."

Eu acho uma óptima ideia! Força com isso! :D